28 de junho de 2012

Visita com frutos


O Governo dos Açores terminou, na passada semana, mais uma visita estatutária à Ilha Graciosa

Esta visita assume caraterísticas especiais por ser a última do atual mandato. Apesar disso acho que esta obrigação estatutária foi muito positiva para a Graciosa e para todos os Graciosenses.

A inauguração de um novo Centro de Saúde foi, sem dúvida, o ponto alto desta visita de Carlos César e do seu governo. O moderno edifício, capaz de proporcionar um serviço de melhor qualidade e com melhores condições para os profissionais e utentes, tem o dobro da área do anterior e respeita as normas internacionais para edificações desta tipologia.

Depois foi a vez de ser inaugurado o novo Centro de Processamento de Resíduos, obra que irá contribuir, e muito, para a qualidade ambiental desta ilha que foi reconhecida, em 2007, como reserva da biosfera. A partir de agora vai ser possível selar as lixeiras a céu aberto e o aterro sanitário construído mesmo à beira do aeroporto. Este investimento irá permitir a exportação de 75% dos resíduos, enquanto o restante irá ser reaproveitado.

Enquanto por esse país fora são encerrados serviços da responsabilidade do governo de Passos Coelho, como aconteceu também na Calheta de S. Jorge, no Nordeste ou na Povoação, com o encerramento de serviços centrais, o Governo Regional aposta na aproximação da administração regional aos cidadãos. Por isso inaugurou mais um posto RIAC na freguesia da Luz, o terceiro a abrir nesta ilha, que irá proporcionar à população daquela freguesia o acesso a uma diversidade de serviços concentrados naquele local, incluindo a marcação de consultas médicas.   

O Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz foi também inaugurado depois de totalmente requalificado, com a remoção das barreiras arquitetónicas e dotado de equipamentos modernos que proporcionam uma melhor qualidade de vida aos seus utentes.

Foi inaugurado também um miradouro no caminho florestal da Caldeira, que irá aumentar a oferta turística. Foi também inaugurada a segunda fase do caminho agrícola Barreiro – Vales, um investimento há muito pedido pelos agricultores daquela zona.

Para além disso foram tomadas decisões importantes, com vista a reabilitar a Escola da Vila da Praia, melhorar as vias de comunicação, apoiar os espaços TIC, iniciar os procedimentos para o lançamento do concurso da Marina da Barra, reabilitar moradias para realojar famílias carenciadas, contratar mais um médico para o período do verão, implementar o serviço de enfermagem ao domicílio aos sábados, ajudar a Adega e Cooperativa na contratação de um plano financeiro para a execução do seu projeto de modernização, lançar a terceira fase do caminho agrícola Barreiro – Vales, entre outras.

É claro que a oposição apresenta reticências, diz sempre que só são promessas, mas o certo é que, apesar dessas dúvidas e desta sua visão distorcida, o Governo dos Açores continua a mostrar obra feita. É pena, mas é a vida.

20 de junho de 2012

Sempre pronto para ajudar

Cristovão Eduardo da Paz Martins
 (30/12/1959 - 12/11/2004)
Perante a necessidade de lavrar e endireitar a terra do meu pequeno quintal desde logo recebi da parte do meu amigo Diogo e do seu cunhado Valentim a disponibilidade para me ajudarem nesta tarefa. Lembrei, na altura, a existência de um tubo de gás subterrâneo, que, a partir do outro lado do quintal, alimentava o esquentador e o fogão montados na cozinha. Este alerta, no dizer do Diogo, exigia a minha presença na altura dos trabalhos para indicar o local preciso, para aí procederem de modo a preservar esse imprescindível tubo.

No dia e na hora combinadas lá estavam os dois, com o respetivo trator. Iniciaram-se as manobras e eu, entusiasmado pelo modo como aquilo estava a decorrer, nunca mais me lembrei do malfadado tubo de gás. Escusado será dizer que o desastre aconteceu. De repente, atrás do trator, surgem da terra duas pontas de tubo de cobre, uma delas derramando abundantemente o combustível a partir da botija ligada na extremidade desta canalização. Foi preciso agir rapidamente e fechar o gás para evitar outro tipo de danos.

Depois do trabalho concluído e ante o cenário de não ter fogão nem esquentador nos próximos dias e sem saber a quem recorrer para resolver esta situação, lá fomos nós matar a sede ao Rivoli, a escassos metros da minha casa.

Atrás do balcão estava, como estava quase sempre, o loiro Cristovão, no seu inconfundível estilo de lobo-do-mar, com barba farta e já com alguma falta de cabelo.

Apercebendo-se do meu desalento logo o Cristovão quis saber o que se tinha passado. Ainda a remoer toda a culpa que só a mim cabia, lá consegui explicar a embrulhada em que me tinha metido. A resposta não tardou. Deu-me indicações para desligar a garrafa de gás e deixar os tubos a arejar durante vinte e quatro horas, dando a conhecer que ele próprio iria lá resolver a situação. De facto no dia seguinte lá surgiu o Cristovão, no lote contiguo à minha casa, a bordo do seu Citroen Mehari amarelo, com uma caixa de ferramentas e outros equipamentos. Soldou os tubos, testou a canalização e enterrou-a tal com estava antes do acidente. Depois do serviço feito e perante a pergunta sobre o custo do seu trabalho, o Cristovão respondeu: “- Depois pagas um copo lá no café”.

Esta resposta diz muito sobre a personalidade deste homem. Estava sempre pronto para ajudar, todos e em tudo. Era uma pessoa desenrascada e, nessa qualidade, resolvia qualquer coisa, literalmente. Para ele não havia impossível.

O Cristovão era natural da vizinha ilha de S. Jorge, mas era da Graciosa que gostava de estar e de viver, como afirmava frequentemente aos amigos.

Lembro-me de ver o Cristovão construir o seu Rivoli. Quando subia a Avenida Mouzinho de Albuquerque, em direção a casa, entrava naquelas obras, observava a evolução dos trabalhos e via o entusiasmo que o Cristovão e a Rosa emprestavam a este seu projeto.

O Rivoli era muito pequeno. A entrada dava para o corpo principal, em forma de L. À esquerda tinha um exíguo reservado, ao fundo, por trás do pequeno balcão, situava-se a cozinha. As casas de banho ficavam ao lado do balcão. O estabelecimento era forrado a madeira o que, em conjunto com a ténue iluminação, dava um ambiente acolhedor.

Abriu ao público em plenas Festas de Santo Cristo, em agosto de 1995. Atingiu tamanho sucesso que o obrigou, apenas alguns dias depois, a interromper a atividade, tendo, para o efeito, colocado na porta um elucidativo cartaz dizendo “Encerrado para organização”.

Por aquele estabelecimento passaram alunos, professores, equipas desportivas, turistas, funcionários deslocados, emigrantes e muitos, muitos Graciosenses.

Graças ao esforço e dedicação dos seus donos, o Rivoli foi sala de estar, cantina e clube de festas de muita gente. Eram frequentes a festas temáticas, acabando algumas em ambiente de baile, depois de removido o respetivo mobiliário. Era lá que muitos jovens festejavam os seus aniversários. Fidelizou muitos clientes, apesar da exiguidade daquele estabelecimento. O que faltava em espaço restava em simpatia.

Era impressionante a rapidez com que faziam uma nova decoração, por exemplo, para o São Martinho ou o Dia das Bruxas. E sempre decorações que surpreendiam. Depois das refeições viam-se, por cima das mesas, tecidos, papéis, balões e outros adereços, a serem preparados por clientes e amigos, sob a supervisão da Rosa e a complacência do Cristovão, para serem colocados nos respetivos lugares, sempre com o objetivo de criar um ambiente que agradasse às pessoas. Esse objetivo era sempre atingido, invariavelmente.

O Cristovão cultivava a amizade, sobretudo dos seus clientes. Era paciente com todos e sempre muito prestável. Fazia de cada cliente um amigo para a vida. Em várias situações, quando já se encontrava vencido pelo cansaço, deixava a chave e a responsabilidade da registadora ao cuidado de um amigo e retirava-se para casa, para um merecido descanso.

O Cristovão fez outras coisas na vida. Foi o representante dos produtos Olá para toda a ilha, em 2002 explorou o bar do Clube Naval e a discoteca Vila Sacramento no ano seguinte. Foi ainda funcionário da Casa Araújo. Nos seus tempos livres dedicava-se ao mar, onde gostava de estar. Viajava com frequência no seu barco, acompanhado por amigos, entre as ilhas do grupo central.

É, no entanto, no seu e nosso Rivoli que se destacou mais, revelando aí qualidades humanas que tocaram fundo no coração dos seus amigos quando tomaram conhecimento da sua inesperada partida.

14 de junho de 2012

A obra é maior do que dizem


O Partido Socialista tem um imenso orgulho da obra feita pelos seus Governos por todas estas ilhas dos Açores. A agricultura, a pesca e o turismo foram sujeitos a um forte investimento para recuperar o tempo perdido. A par desta estratégia o Governo dos Açores empenhou-se no reforço das estruturas portuárias e aeroportuárias, na renovação e construção de uma rede viária moderna e segura. A construção de novas escolas e a requalificação de muitas outras foi uma realidade, dotando a região de um parque escolar de excelente qualidade. Os transportes marítimos de passageiros foram reintroduzidos no período de verão, depois de terem sido desmantelados nos anos 80, quando os destinos da região estavam nas mãos do PSD de Berta Cabral, convém não esquecer. Foram também implementadas medidas de proteção social importantes, como a introdução do complemento de pensão para idosos, que abrange mais de trinta e cinco mil cidadãos e do apoio à aquisição de medicamentos do qual usufruem mais de mil e trezentos Açorianos. Mas não foi só. Os Governos da responsabilidade do Partido Socialista triplicaram os centros de convívio, criaram mais vinte e duas creches e aumentaram o número de lares de idosos e equipamentos de apoio domiciliário.

Na Ilha Graciosa estas alterações, para muito melhor, também são visíveis, precisamente nestas mesmas áreas. Nesta ilha também houve mudança da noite para o dia. Só não vê quem não quer.

Berta Cabral quando se desloca à Graciosa, em trabalho partidário, teima em não reconhecer isso e reinventa teorias com base em erros do passado, precisamente quando tinha responsabilidades políticas importantes.

Desta vez Berta Cabral, e passo a citar uma nota de imprensa publicada no Graciosa Online e com a ligação http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/graciosa/?k=Dupla-insularidade.rtp&post=40172, “quis reconhecer o esforço da indústria, mas também incentivar os produtores, que em 10 anos passaram de 1 milhão para 2,5 milhões de litros de leite por ano”, fim de citação.

Ora, se fosse só isto era muito pouco. No setor agrícola da Graciosa o Partido Socialista fez muito mais e orgulha-se disso todos os dias. Reergueu das cinzas a produção de leite e colocou-a no patamar dos 8 milhões de litros por ano e não dos 2,5 milhões referidos por Berta Cabral naquela nota de imprensa. E mais. Ao contrário do que aconteceu com a administração laranja que equacionou, entre 1992 e 1995, a possibilidade de encerrar de vez a indústria de laticínios, o Partido Socialista, a partir de 1996, apostou na inversão desta tendência suicida e decidiu construir uma nova e moderna fábrica que, neste momento, tem um enorme e inquestionável peso na economia da ilha.

Como se vê a obra do Partido Socialista, quer na Graciosa quer nas restantes Ilhas dos Açores, é muito maior do que o PSD de Berta Cabral quer fazer parecer. O povo, na altura certa, saberá fazer a destrinça entre o trigo e o joio.

7 de junho de 2012

Cortar a direito


Foi estranho para muita gente acordar na passada segunda-feira e não ter na RTP Açores o Bom Dia do conhecido Pedro Moura, tal como foi também triste para muitos Açorianos deixar de poder ver o noticiário regional das 13 horas.

Esta é a demonstração de que o plano do ministro Relvas já está em andamento, sem dó nem piedade. É mesmo assim, cortar a direito sem preocupações com as obrigações de serviço público, nem com o interesse dos Açorianos. E, o mais grave, é que ninguém consegue explicar que ganhos financeiros se obtêm com esta alteração.

Curiosamente, hoje foi conhecido um estudo de opinião, elaborado pela Norma Açores, onde 79% dos inquiridos não concorda com a concentração da programação regional entre as 17 e as 23.30 horas.

O referido estudo, e passo a citar a nota do Gabinete de Apoio à Comunicação Social, “aponta também para uma clara adesão do público açoriano à RTP Açores, que surge em primeiro lugar em termos de notoriedade total (reconhecimento e visualização), com 85,5%, sendo igualmente o canal mais visto do Grupo RTP nos Açores; seguida da TVI com 79%, e da SIC com 75,3%, respetivamente. Dentro do universo RTP, a RTP/Açores é, não só o canal que merece maior reconhecimento dos açorianos (47,5% para a RTP/Açores contra 41,5% da RTP 1), como é também o que é visto com maior regularidade (37% para a RTP/Açores, 18% para o Canal 1)”, fim de citação.

Este estudo de opinião indica, também, que o programa Bom Dia, agora extinto ao abrigo da imposição desta “janela” da programação regional, era o programa mais visto pelos Açorianos, seguido do Telejornal. Mais palavras para quê…

O receio é que, impelidos por esta suposta concentração de meios e de recursos, frase muito em voga agora, se comece, devagarinho e à falsa fé – como aconteceu agora – a promover o esvaziamento, primeiro, dos correspondentes e, depois, dos centros de produção mais periféricos, em nome da economia de escala. Com este caminho poderemos estar a desenhar o fim desta estação que muito tem dado aos Açores e às suas gentes.

Às voltas com esta questão anda o PSD Açores, sem saber o que há-de fazer com este embaraço em que se meteu. E tudo porque o PSD Açores se quer dar bem com Deus e com o Diabo, o que, convenhamos, não é boa política.

6 de junho de 2012

Uma vida de trabalho duro


Diógenes da Silva Lima

(04/12/1920 – 19/02/1988)

Em casa preparava-se mais um fim-de-semana na Praia. Era um ritual que levava o seu tempo, pois a viagem era grande. Apesar de serem apenas seis quilómetros de distância, aquela viagem parecia longa.

Com os poucos carros que circulavam na ilha, os transportes coletivos e de cargas assumiam um papel preponderante na movimentação de pessoas e bens entre as quatro freguesias da Graciosa. As festas da ilha obrigavam a vários desdobramentos até levar a casa os últimos passageiros. No período do Carnaval estas camionetas faziam as visitas aos clubes e ainda transportavam os resistentes folgazões que, depois do último baile deste período e já quando nascia um novo dia, davam um passeio pela ilha. Existiam também algumas indústrias, tais como a cal, a telha e os refrigerantes que requeriam transporte para a distribuição e exportação.

Fomos até à garagem e oficina do senhor Diógenes, no Atalho, e esperámos pela hora de nos abrirem as portas da gasta camioneta que nos haveria de levar nesta viagem. Tinha o motor na frente e um capô de abrir para os lados. O corpo da camioneta desenvolvia-se para traz do motor, o que lhe dava um ar de tartaruga, nome pela qual era popularmente conhecido este meio de transporte. A lentidão poderia muito bem ser outra explicação para esta alcunha. Os passageiros entraram e o condutor, com a ajuda do cobrador, colocou no tejadilho várias encomendas e a mala do correio, que haveriam de ser distribuídas pelos destinatários ao longo dos caminhos da ilha.

Compramos o respetivo bilhete, de cor verde e encimado pelo nome de Diógenes da Silva Lima & Filhos Limitada, cortado, com uma pequena régua de alumínio, numa diagonal até à indicação do preço. Três escudos e cinquenta centavos era o custo desta viagem. Já com a camioneta em andamento, vinha o cobrador, sempre com a sua mala de cabedal a tiracolo, com uma espécie de alicate, fazer um furo no lugar correspondente ao percurso.

A viagem começava com piso razoável, mas grande parte do percurso ainda era feito em estrada de macadame. O caminho do Quitadouro, em direção à Praia, começava logo com uma grande subida, mas, mais ao menos a partir de meia viagem, no Formigueiro, havia uma descida abrupta, o que levava o condutor a redobrar os cuidados para levar os seus passageiros ao destino em segurança. A nossa tartaruga, de um modo esforçado, lá conseguia dar conta do recado, e completava assim mais um percurso, que terminava numa outra garagem, na Rua Rodrigues Sampaio, na Praia, onde o condutor, com o seu olhar clínico ditado pela experiência, via os níveis de óleo e de água e tratava de a pôr operacional para fazer mais uma viagem.

O senhor Diógenes a 22 de outubro de 1941 adquire, por dezasseis contos, o negócio de fazendas e mercearias, com sede na Rua Fontes Pereira de Melo, na Praia, filial da firma Costa e Medina Limitada, para o qual trabalhava desde 1936.

Quando tinha 18 anos constrói o seu primeiro autocarro, uma miniatura em madeira. Mal sabia ele que a sua vida empresarial estaria ligada aos transportes coletivos até ao dia da sua morte.

Em 16 de junho de 1948 recebe o seu primeiro táxi, um Austin. A 2 de agosto do ano seguinte recebe outro táxi, também daquela marca. A 29 de janeiro de 1951 recebe mais um táxi, também Austin e a 30 de março de 1954 recebe a quarta viatura para serviço de aluguer com condutor.  

Em 1954 compra um chassis de um autocarro e trá-lo até à Graciosa no navio Lima. É colocado num batelão em Santa Cruz, mas devido à fraca capacidade do pau de carga do porto, esse batelão é rebocado por uma “gasolina” baleeira até à Praia, onde finalmente é descarregado para terra firme. A carroçaria é feita na Graciosa pelos irmãos João e Manuel Machado, em madeira e forrada posteriormente a alumínio. Até os estofes eram feitos cá. Esta opção pela importação de chassis tinha a ver com a inexistência de meios para descarregar um autocarro completo.

Na altura a empresa tinha a sede na Praia. A primeira viagem desta camioneta dá-se a 23 de outubro de 1954, um sábado, fazendo um percurso de 52 quilómetros e realizando uma receita de 614$50.

As frequências foram aumentando, até que a partir de 9 de dezembro de 1957 passa a haver carreiras diárias.

A 24 de dezembro de 1955 recebe mais dois chassis que foram novamente carroçados pelos irmãos Machado, um destinado a carga e outro a passageiros. Curiosamente estes chassis saíram de Lisboa no navio Terceirense, a 20 de novembro, mas não puderam desembarcar devido ao mau estado do mar. Foram até Ponta Delgada e voltaram, desta vez no navio Lima, tendo desembarcado nesta ilha na véspera de Natal daquele ano.

Em 1958 a sede passa para Santa Cruz. Em 1968 dá-se uma alteração estatutária, passando a empresa a designar-se Diógenes da Silva Lima e Filhos Limitada.

Enquanto vai desenvolvendo a sua atividade nos transportes coletivos continua a investir nos táxis, chegando a ter 10 em circulação, espalhados pelas praças das quatro freguesias. Este negócio, no entanto, é abandonado a seguir à revolução de 1974. Mais tarde termina também com o serviço de transporte de mercadorias.

Em 1980 transforma-se em Empresa de Transportes Coletivos da Ilha Graciosa, já com a participação da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa no capital social.

A vida deste empresário não foi fácil. O recurso ao crédito e as dificuldades próprias da época, que desfasavam o período do investimento do período do respetivo retorno, podiam afastar deste tipo de negócio os menos afoitos, mas não o senhor Diógenes. Nunca se deu por vencido e empenhou-se de corpo e alma neste seu projeto, que acabou mesmo por ser o seu projeto de vida, enfrentando e minimizando todas as contrariedades que surgiram.

As dificuldades nos transportes destes equipamentos de grande dimensão eram resolvidas com imaginação. Se um batelão não chegasse, juntava-se um outro e colocavam-se alguns postes de telefone, atravessados, para dar mais consistência e equilíbrio a este meio de transporte adaptado. A falta de peças suplentes era resolvida com muito trabalho. Frequentemente as suas oficinas trabalhavam ininterruptamente, por vezes inventando peças, para colocar o autocarro ao serviço logo pela manhã. São conhecidas histórias de reparações feitas mesmo durante as viagens ou mudanças de motor durante a noite para que no dia seguinte não faltasse transporte a muitos Graciosenses que dele dependiam.

O senhor Diógenes foi um empresário que teve uma vida de trabalho duro e de muita dedicação ao seu negócio, que não lhe terá rendido muito em termos financeiros, mas certamente que o preencheu. Podíamos vê-lo agarrado ao volante de uma das suas camionetas a conduzir horas a fio, a supervisionar a sua oficina ou a vender bilhetes no seu guichet. Era um homem que nunca parava.

Nos seus tempos livres gostava de tocar violão e dançar modas de viola nas festas de Carnaval que aconteciam nos clubes espalhados pela ilha.

A ousadia, a tenacidade e a coragem com que tratou os seus negócios fazem dele um empresário que se destacou na Ilha Graciosa e que importa recordar.