19 de dezembro de 2013

Uma questão de calibragem


O atual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, referiu recentemente que não era objetivo do Governo criar um modelo assente em salários baixos ao mesmo momento em que baixava o rendimento dos funcionários públicos, dos pensionistas e incentiva a redução de salários no sector privado.

Referiu, também recentemente, que as medidas duras que aplicou aos Portugueses se deviam a um programa da troika bem desenhado mas mal calibrado, muito embora ninguém se esqueça das suas declarações em plena campanha, onde afirmava orgulhosamente que o seu programa coincidia com o memorando de entendimento e dizendo, depois de ser empossado, que iria mais além do exigido pela troika.

Durante estes dois anos e tal em que dirige o Governo de Portugal já deu para entender que este senhor diz uma coisa e faz outra, sem qualquer pejo nem consideração por um povo que sofre nas mãos de ultraliberais assumidos que fazem jogos de experimentalismos económicos sem se preocuparem com as consequências.

Estas e outras considerações enquadram-se, com toda a certeza, no reconhecimento que deve ter do mal que fez a todo um povo que se sente arrasado por esta onda de austeridade. Agora, muito devagarinho e quase à socapa, o primeiro-ministro vem assumindo que talvez tenha sido excessivo na sua aplicação, tendo para isso um grande apoio do Fundo Monetário Internacional que, na pessoa da sua Presidente, vem agora admitir que aquele organismo errou na aplicação da austeridade e na avaliação das suas consequências nos países com maiores dificuldades. Tarde de mais. Cheira a peso na consciência, a remorso tardio.

Enquanto isto, alguns comentadores das áreas políticas do PSD e do CDS-PP vêm a público regozijar-se com alguns indicadores de crescimento da economia e sinais de estabilização do desemprego. Depois de arrasada é natural que a economia cresça, não há outro remédio. Sabe-se que o consumo tem sido responsável por esse ténue crescimento, consumo esse que foi completamente dizimado pelo Governo, queda atenuada pela ação fiscalizadora do Tribunal Constitucional que, em boa hora, conteve o desvario deste desgoverno. O desemprego foi estabilizado à conta da sangria da emigração motivada pela falta de esperança de inúmeros concidadãos que não encontraram respostas no seu país.

Fazendo fé neste amontoado de incongruências e no sentimento da esmagadora maioria do povo de Portugal chegamos à conclusão que afinal este Governo de Passos Coelho e Paulo Portas não tem calibre para servir o nosso país.

12 de dezembro de 2013

Uma coisa e o seu contrário


Estivemos discutir e a votar, no passado mês de Novembro, o Plano Regional e o Orçamento para ano 2014, documentos fundamentais para a governação da Região Autónoma dos Açores.

Há nestes documentos um conjunto de medidas visando minimizar o impacto negativo da austeridade imposta pelo Governo da República no Orçamento do Estado para 2014 aprovado pelo PSD e CDS-PP uns dias antes e que contou, diga-se com toda a verdade, com o voto favorável dos deputados do PSD eleitos pelo círculo eleitoral dos Açores, facto que se revelará importante para quem quiser fazer uma análise séria ao que se passou na Assembleia Legislativa durante esta discussão.

O PSD Açores decidiu e anunciou, com muita antecedência, é certo, a sua abstenção nestes dois documentos de planeamento regionais, sem se abster, no entanto de apresentar algumas propostas de alteração aos mesmos, com a legitimidade que se lhes assiste. E é aqui que está o problema.

Enquanto lá fora os deputados do PSD Açores votam favoravelmente um orçamento que lesa gravemente as famílias, retira benefícios aos funcionários públicos, promove políticas que aumentam o desemprego, reduz pensões, sonega verbas à Universidade dos Açores e à RTP-Açores, aqui, esse mesmo partido, define-se como o arauto na defesa dos Açores e apresenta algumas alterações impondo à Região um esforço financeiro suplementar no sentido de substituir o Estado Português naquelas que são as suas funções e obrigações.

É caso para dizer que este partido defende uma coisa nos Açores e precisamente o seu contrário na República, o que não deixa de ser estranho. Por aqui se vê que a coerência não mora ali.