Estou há um bom bocado com o
processador de texto aberto e sem fazer ideia do tema que hei-de escolher para
o artigo de hoje. Acontece-me frequentemente e, presumo, também acontecerá com
todos os que tem o compromisso de escrever com alguma regularidade.
Podia muito bem escrever sobre o
congresso do PSD mas ali nada aconteceu de novo a não ser um repetido e
enganador autoelogio e o costumeiro ataque ao partido que o precedeu no Governo.
Ou meditar sobre o regresso do
“Doutor” Relvas à vida política que tanto gosta, mas isso é apenas o pagamento
que Passos conseguiu fazer ao seu amigo de sempre e como tal era esperado e não
merece comentários.
Podia debruçar-me sobre a frase
emitida por um alto dirigente do PSD que disse que “Portugal estava melhor, mas
os Portugueses não”, ideia sintomática de uma direita que acalenta o sonho de
ter um país sem Portugueses e que, para esse efeito, já iniciou esse trabalho
despejando os jovens para fora de portas e a retirar dinheiro e direitos aos
velhinhos, garantindo, no entanto, que morram em paz, mas quanto mais cedo
melhor para não dar despesa.
Podia analisar uma notícia
recente em que era dado a conhecer que metade das casas Portuguesas têm
máquinas de café em cápsulas, da inquietação que tal informação deve ter
provocado no nosso primeiro-ministro e das ideias que lhe terão passado pela
cabeça para taxar mais esta leviandade dos Portugueses que teimam em viver acima
das suas possibilidades.
Podia escrever sobre as
preocupações do ainda Presidente da Comissão Europeia, o nosso concidadão Durão
Barroso, que praguejou nos noticiários de todas as televisões por esse mundo
fora, condenando o posicionamento das tropas russas na Crimeia e considerando
inadmissível esta postura em pleno século XXI, quando ainda há poucos anos
apadrinhou a cimeira da guerra realizada nas Lajes e a posterior cruzada à
procura de armas de destruição em massa, afinal inexistentes, sem se importar
com o sofrimento de muitos Iraquianos que nunca mais tiveram paz nas suas vidas.
Podia muito bem falar nas
Jornadas Parlamentares do PSD-Açores dedicadas às políticas sociais, iniciadas
em dia das cinzas – “símbolo para a
reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira,
transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte”.
Podia, sem muito esforço, criticar
esta iniciativa por ter sido realizada apenas com o intento de reduzir o
impacto do roteiro que o PS fez por todas as ilhas dos Açores dedicado a esse
tema. Pensei melhor e concluí que com as questões sociais não se brinca,
especialmente neste período em que o governo de Passos Coelho tira tudo a
alguns, os mais frágeis. Todos somos poucos para minimizar o impacto deste
empobrecimento brutal a que estamos sujeitos e, como tal, só tenho de louvar a
preocupação que este partido demonstrou com esta problemática, muito embora não
concorde, de todo, com a sua visão sobre este assunto e com a crónica falta de
ideias e soluções para os problemas que levanta.
Por fim podia criticar o mesmo PSD-Açores
por ter promovido uma visita à Adega dos Biscoitos, em Janeiro passado, mas resolvi
não entrar por aí para não cair no ridículo, porque ao PSD-Açores assiste-lhe todo
o direito de fazer as visitas que quiser, onde quiser e quando quiser, que eu
não tenho, rigorosamente, nada a ver com isso.
Meu pai, homem humilde e honesto,
dizia-me, sabiamente: “José, quando não souberes o que dizer é melhor ficares
calado”. Confesso que não foi o caso de hoje, mas tenho por hábito levar esse
ensinamento à risca.