Quando Portugal se submeteu à
intervenção da troika era previsível
que grandes sacrifícios estavam reservados aos portugueses, não só por via das
grandes reformas mas também pela pressão fiscal que se adivinhava.
O esforço para a redução do
défice e consolidação das contas públicas a isso obrigava, sem dúvida, porque a
crise instalada em 2008 no mundo, na europa e em Portugal, obrigou, por um
lado, a um grande esforço financeiro do nosso país para manter postos de
trabalho e apoios sociais e, por outro lado, vimo-nos confrontados com uma
drástica diminuição das receitas, enquanto a banca, enredada na malfadada falta
de liquidez, não conseguia financiar a economia.
O curioso neste processo é que o
partido que se insurgiu contra o chamado PEC 4, fê-lo, supostamente, na
convicção de que era impossível pedir mais sacrifícios aos portugueses,
sobretudo à classe média. Esta atitude foi bem recebida pelos eleitores, que,
aliás, acabaram por confirmar isso mesmo nas urnas, no acto eleitoral que se
seguiu.
Esta maneira de ver na altura e o
modo de actuar agora, diz-nos apenas e só que se tratava de uma medida meramente
populista, ao estilo caça votos. Mas lá que resultou, resultou…
Notam-se, neste momento, grandes
contradições ou jogo de cintura, como é comum denominar-se estas diferenças
entre o dito e o feito.
Para quem chumbou um programa de
estabilidade e crescimento com o argumento de que não poderia subscrever um
aumento da carga fiscal e agora procede ao maior ataque à classe média de que
há memória, por via do aumento brutal de impostos, isto pode significar que a
palavra dada é irrelevante para este governo.
Para quem se insurgia
constantemente contra as reformas na saúde, na administração pública, na
justiça, pondo constantemente em dúvida o encerramento de serviços
sobredimensionados ou desnecessários e agora prepara o desmantelamento cego do
Serviço Nacional de Saúde e despedimentos na função pública, isso quererá dizer
que na oposição fizeram um mau trabalho, sem o sentido de estado que um partido
do arco do poder deveria ter. Lutaram pela justiça tributária e agora acabam
com as deduções fiscais em sede de IRS.
Na oposição abominaram reformas,
juntando-se às populações que contestavam a perda de direitos, enquanto agora
anunciam um novo imposto em cada dia, reformas atrás de reformas que implicam
explicitamente cortes na força do trabalho, sem nunca explicar, ou explicar
mal, como vai crescer a economia.
Em tempos exigiam mais emprego
para os jovens e agora os responsáveis políticos recomendam que estes procurem
trabalho lá fora. Tal como prometiam não mexer nos subsídios de natal ou de
férias e agora é o que se vê.
Por isso se conclui que não será
totalmente exacto quando o PSD diz que o interesse nacional está acima de tudo,
porque, como se vê, o interesse partidário comanda, por vezes, os desígnios da
nação.
Também poderemos constactar que “falar
verdade” nunca mais poderá ser o lema deste partido que jurava prezar esse
valor.
Por muito menos o Presidente da
República apelou a um “sobressalto cívico”.
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