Qualquer mercearia que se
prezasse tinha (algumas ainda têm) um livro dedicado às contas, normalmente com
as lombadas coçadas pelo tempo e de tanto uso. De um lado eram registados as vendas,
a azul, e no outro, a vermelho, os pagamentos. Era o Deve e o Haver.
Este método podia ser lento, até
arcaico para os nossos dias, mas era infalível, levando o merceeiro a entrar em
estado alerta quando as contas a vermelho chegavam perto das outras, quase
sempre por culpa de um outro livro, o dos fiados.
Aquilo batia certo. Não era
preciso ninguém de gestão ou de economia para lhes dizer se o negócio dava para
si. Com uma ou duas contas feitas a lápis naquele papel canelado com que
embrulhavam tudo, chegavam rapidamente à conclusão do estado do seu negócio.
Por isso é que não concordo
quando se utiliza esta designação em tom depreciativo com que por vezes é
utilizado, pois, como se vê, este tipo de registo não permitia leituras
enviesadas. Era aquilo e ponto final. O merceeiro sabia, e se não soubesse o
problema era só dele, que quando tirasse de um lado tinha de repor o mais
rapidamente possível no outro, em razão do equilíbrio do seu ganha pão.
O PSD quando partiu para a
discussão do Plano e Orçamento para 2012 anunciou várias iniciativas, de modo
pomposo e com o respectivo envolvimento mediático, todas no sentido de grandes
ganhos em poupança, que é, como quem diz, aquilo que as pessoas agora gostam de
ouvir.
Os Açorianos tinham o direito de
saber o verdadeiro teor das propostas, os seus valores e os mecanismos de
compensação utilizados. Não é só dizer que se tira daqui e se põe ali. É
preciso mais. É preciso explicar claramente o que se quer e como se quer.
Veja-se a confusão. Enganaram-se
no valor da dívida regional em mil milhões de euros. Propunham cortes na
despesa de 20 milhões, mas afinal dava para poupar apenas um terço desse valor.
Propuseram apoios às autarquias nos projectos co-financiados pela União
Europeia e verificou-se que a aplicar tal medida as autarquias não seriam
beneficiadas. Queriam reduzir as verbas destinadas aos estudos e nos últimos
meses não fizeram outra coisa senão propor estudos para tudo.
Nenhum merceeiro aceitaria
tamanha trapalhada nos seus livros de registo até porque quem tem uma mercearia
sabe muito bem fazer as contas.
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