Oriolando de Sousa Machado Correia da Silva
(06/11/1938 –
31/03/2008)
A primeira vez que ouvi o Cântico
Negro de José Régio, já lá vão uns bons anos, foi pela voz do Oriolando. Creio
que ninguém fica indiferente a estas poderosas estrofes, mas confesso que este
cântico ganhou um lugar de honra nos meus gostos literários, muito por culpa de
uma declamação que senti, na altura, ser perfeita, pelo tom, pelo ritmo e pela
sensibilidade de quem o dizia.
Com o seu timbre forte mas, ao
mesmo tempo, melodioso, o Oriolando declamava este e outros poemas como ninguém.
Também cantava acrescentando
sentimento às interpretações que fazia, desde músicas do reportório popular até
às mais eruditas, passando pelas de intervenção política mais conhecidas.
Era um notívago assumido e nessa
condição era frequente vê-lo em convívios com os inúmeros amigos, que, quase
sempre, proporcionavam momentos dedicados ao canto, à declamação ou a discorrer
sobre História, de que tanto gostava, ou em simples cavaqueira.
Assisti, no palco da antiga cerca
da Filarmónica Recreio dos Artistas, aos ensaios de uma peça de teatro dirigida
pelo senhor Brivaldo Santos, onde o Oriolando tinha um papel importante que
representava com proficiência. Nesse tempo o teatro fascinava os miúdos que,
sem mexer uma palha, assistiam incrédulos aos intermináveis ensaios, onde os
atores se comportavam como autênticos profissionais.
Era um eloquente orador e, nessa
qualidade, era convidado com muita frequência para dissertar em cerimónias
públicas, efemérides ou lançamentos literários.
Defendia os ideais de esquerda. Esta
era a sua posição política que, no verão quente de 1975, lhe terá causado
alguns dissabores, que soube enfrentar com coragem e determinação,
rendendo-lhe, mais tarde, o respeito e admiração quer dos companheiros quer dos
que não pensavam como ele.
Durante a sua vida participou
ativamente na vida pública do seu concelho, tendo sido deputado municipal.
Encontrou na História a sua
paixão. Nos últimos tempos fez investigação e chegou a pôr em causa alguns
conhecimentos dados como certos da história da Graciosa, com fundamentos válidos
e que apresentava com sabedoria.
Foi também genealogista, tendo
sido um dos grandes mentores e impulsionadores dos vários encontros regionais
destes especialistas realizados na Ilha Graciosa.
Profissionalmente foi solicitador
e, nessa qualidade, participou em inúmeros atos onde se destacava pela sua
oratória e conhecimentos jurídicos.
Esteve também imbuído do espírito
associativo e, como tal, fez parte de diversos corpos sociais de clubes locais
e foi também sócio fundador da Cooperativa Rádio Graciosa e o primeiro presidente
da sua Assembleia Geral.
Embora sem grandes habilitações
académicas este autodidata era um homem de saberes que ombreava com os demais
na valorização da cultura e das tradições.