21 de agosto de 2014

O amigo Zé Jorge

A morte, com o passar dos anos, cada vez se acerca mais de nós. Leva-nos os familiares mais idosos, nossos e dos nossos amigos, intervalado aqui e ali pelas mortes mais ou menos prematuras, por acidente ou por doença súbita.

Todas essas mortes são dolorosas para os familiares e amigos, mas aquelas para as quais não encontramos explicação convincente, por serem geralmente inesperadas, são as que mais doem. Para essas não estamos, nem nunca estaremos, devidamente preparados.

O amigo Zé Jorge partiu no passado sábado, repentinamente, sem avisar. Para a sua família esta é uma perda irreparável e uma dor difícil de imaginar. Os muitos amigos que o rodeavam ficaram mais pobres e nunca o poderão esquecer.

Conheço o Zé Jorge desde que me lembro. Das brincadeiras na Calheta e no Santo, aos jogos na Praça, passando pelos escuteiros, foram incontáveis dias de uma sã convivência que normalmente marca a vida dos adolescentes.

No Lar Académico, no Faial, o Zé Jorge, que já lá estava há mais tempo, recebia os seus conterrâneos de um modo afável e sempre bem-disposto, fator importante para quem saia da casa dos seus pais com tenra idade e que não sabia ao que ia. O estatuto de mais velho não lhe quartava a vontade de apoiar os mais novos e, como tal, mais instáveis por estarem num ambiente diferente do seu.

Por entre jogos de futebol intermináveis ou partidas de ping pong disputadíssimas, passando pelos acampamentos na quinta e as clandestinas petiscadas, tudo serviu para consolidar os laços que ainda hoje une os que por lá passaram e cujas aventuras serviam de tema de conversa nos inúmeros encontros que fomos mantendo, o último ainda muito recentemente e que recordo com grande saudade.

O Zé Jorge não gostava de dar nas vistas e fugia de protagonismos. Era muito honesto e dotado de grande humildade, qualidades que terá herdado de seu pai. Era trabalhador e gostava de “dar uma mão”, quer aos amigos que dele precisavam, quer nas suas funções profissionais. Parecia reservado, mas no fundo era um excelente conversador e bom contador de histórias. Detestava as injustiças.

Às contrariedades que a vida lhe reservou, e que duras que foram, respondeu com coragem e determinação. 

Como ser humano devia ter também alguns defeitos, mas, sinceramente, nunca os vi. Nunca o vi faltar ao respeito ou ofender alguém. Nunca o ouvi ser maledicente ou mesmo inconveniente.

Quem o conheceu só o pode definir de uma forma: UM HOMEM BOM.

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