Na quarta-feira da passada semana, quis o PSD, com o apoio da restante oposição, da direita à esquerda radical, derrubar o Governo legitimamente eleito em 2009.
Instalou-se uma crise política que vem juntar-se a uma crise financeira e económica que, entretanto, já abalava Portugal e o mundo.
É certo que foi o Governo que afirmou que não teria condições para continuar, caso fosse aprovada a resolução de rejeição do Plano de Estabilidade e Crescimento e a demissão aconteceu, no mesmo dia em que o Parlamento se manifestou nesse sentido.
Curiosamente nenhum dos partidos foi capaz de, apesar dos apelos do Governo e do partido que o suporta, apresentar propostas alternativas na busca de consensos. Optaram pelo silêncio em favor dos seus interesses partidários, ao invés do interesse Nacional, que reclamava maior responsabilidade.
Nessa mesma quarta-feira, dia em que decorreu em Bruxelas uma cimeira para fortalecimento da zona euro, ouvíamos Angela Merkel, da mesma família política europeia, como se sabe, dar um valente puxão de orelhas a Pedro Passos Coelho pela posição irreflectida de provocar uma crise política num momento em que existe grande pressão dos mercados sobre a dívida do nosso país. E não foi só. Muitos líderes europeus, incluindo mesmo o Presidente da Comissão Europeia, terão ficado incomodados com esta atitude.
Os efeitos desta incerteza política provocados pela demissão do Governo não demoraram a chegar. Os juros aumentaram desmesuradamente e instalou-se uma desconfiança nos investidores, pondo em risco a capacidade do nosso país se refinanciar nos mercados num futuro próximo.
O que é incrível é que Passos Coelho não demorou muito a afirmar que os objectivos do défice são para cumprir, caso chegue ao Governo. Alguém o terá forçado a admitir que o PEC em questão era essencial para o nosso país e que, caso chegue ao poder, vai afinal aplicar o plano que rejeitou e que fez cair o Governo. E sabe-se agora, através duma entrevista dada a um jornal estrangeiro, que o chumbo deveu-se não ao facto do documento ir longe demais, como quis fazer crer, mas tão só porque não foi ainda mais longe… Tudo dito.
É também incompreensível que, apesar de estar há seis anos na oposição e a dois meses das eleições, o PSD não tenha já um programa para governar Portugal. Neste momento apenas conhecemos, e aos poucos, as linhas gerais de um programa.
O assalto ao poder era previsível, estando apenas em aberto a questão da oportunidade e esta, por sua vez, estava dependente das sondagens sobre a intenção de voto dos Portugueses.
Passos Coelho e o PSD revelam um apetite desenfreado pelo poder. O líder e o seu partido foram capazes de esquecer os altos interesses do estado, para satisfazerem os desejos de chegarem a primeiro-ministro e ao Governo, a qualquer preço, pelos vistos.
O líder do PSD, que tanto criticou o Governo por aumentar a carga fiscal e de não ser de confiança, perdeu a face: afinal vai resolver a crise com o aumento dos impostos, atitude sempre renegada, e como tal não é um homem de palavra.
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