Homem multifacetado que deu muito de si e do seu saber aos outros
(09/01/1925 – 02/05/1995)
O senhor Luíz Coelho era bastante
alto e aproveitava esse fator para, nos finais de tarde do período estival,
fazer alguns pontos nos jogos de voleibol que se prolongavam até ao anoitecer.
Apesar de serem jogos informais, feitos com a roupa que se trazia no corpo,
eram levados muito a sério.
O campo de S. Francisco enchia-se
de gente - uns a jogar e outros a assistir, como eu - num convívio em que as
piadas disferidas durante o jogo, no recinto ou fora dele, por vezes
despoletavam pequenas escaramuças logo desfeitas pelo bom senso dos
participantes mais calmos, como era o caso dele.
Profissionalmente esteve sempre
ligado a máquinas e a motores. Era disso que gostava.
Foi responsável técnico pela
Central Elétrica da Câmara Municipal durante muitos anos. Naquele tempo a
eletricidade era desligada à 1 da manhã. Para avisar a população de que estava
perto dessa hora era feito um sinal de luz por duas vezes. Quando esse sinal
tinha mais uma componente todos sabiam que havia um problema nos motores e que
o funcionário requeria a presença urgente do senhor Luíz Coelho para o
resolver. Nesse tempo isso acontecia com muita frequência.
Era funcionário da Rádio Farol
que fornecia importante apoio à navegação aérea. Nunca percebi porquê, mas
aquela estrutura era um ponto de visita e, quando lá ia alguém, o senhor Luíz
Coelho explicava como aquilo funcionava e mostrava com orgulho os motores
impecavelmente mantidos que, segundo as suas exemplificações, arrancavam quando
faltasse a energia da rede pública.
Os seus conhecimentos fizeram com
que fosse chamado a dar apoio técnico à fábrica de conservas do senhor Manuel
Barcelos e à primeira máquina debulhadora que veio para a Graciosa.
Era um amante do mar. Ao leme da
sua lancha “Júpiter” facultava alguns passeios aos visitantes e chegou a
colaborar em algumas expedições de carater científico ao redor da Graciosa.
Participou ainda na gestão da
companhia baleeira do Mota (Pico) e foi presidente da direção do Santa Cruz
Sport Club.
Foi também diretor da Adega
Cooperativa da Ilha Graciosa, numa altura em que o vinho verdelho e a
aguardente davam prestígio a esta ilha.
Era, também, um radioamador
reconhecido a nível regional. No âmbito desta atividade lúdica prestava apoio
aos habitantes da ilha quando falhavam as comunicações.
No sismo de 1 de janeiro de 1980
as comunicações claudicaram e foi através do senhor Luiz Coelho que as
autoridades souberam o que se tinha passado na Graciosa, como foi através dele
que os graciosenses ficaram a saber da catástrofe que se tinha abatido na
Terceira e S. Jorge. Eu próprio, apanhado na Terceira por esse desastre natural
e perante a inoperância do telefone, só tive notícias da minha família e dos
estragos que afetaram sobretudo a zona sul da ilha, através de um contato que
alguém terá feito com o senhor Luíz Coelho.
Era um “engenhocas”. Improvisava,
mas, o que é certo e sabido, é que arranjava solução para tudo. A sua oficina,
de fazer inveja a muitos profissionais, tinha ferramentas de todos os géneros, mas
quando a reparação exigia um utensílio especial, lá estava ele a inventá-lo na
medida certa.
Naquele tempo, quase ninguém
tomava decisões sobre equipamentos, motores ou automóveis, sem receber a sua
“aprovação” e, claro, de forma gratuita.
Luíz José Coelho foi um homem multifacetado que deu muito de
si e do seu saber aos outros, por isso tem lugar cativo na galeria dos
Graciosenses que se destacaram.
1 comentário:
Muito interessante o teu recordar do meu primo Luis, sempre o tive como impar, marcou toda a minha adolescência, ainda hoje tenho saudades.
Quando chegava á Graciosa e depois de casa da avó Líbia, era sempre á dele a que ia a seguir.
Será sempre o primo Luis Coelho !
Carlos Manuel
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