28 de agosto de 2014

O passado

O PSD-Açores anda de ilha em ilha a comemorar os quarenta anos de existência daquele partido, relevando, como não podia deixar de ser, o seu papel na construção da autonomia democrática dos Açores, facto que é inegável para quem acompanha o que se tem passado nesta região desde 1975.

Neste grande frenesim pelas ilhas, o PSD-Açores esqueceu-se de referir, e isso era não só fundamental como seria justo, que esse património é pertença dos diversos partidos que, de uma maneira ou de outra, tem dado o seu contributo para consolidar as conquistas que a revolução de Abril proporcionou.

Este súbito olhar para o passado e acerto de contas com a história se tem como objetivo relembrar os seus anos de governação, é, quando muito, um processo falhado porquanto o estado da região em 1996, quando aquele partido saiu do Governo, não pode orgulhar quem hoje se assume como principal alternativa de poder e é sempre muito lesto na crítica.

Aqueles múltiplos momentos comemorativos servem, já se sabia, para disferir mais uns ataques ao Governo, mantendo, sem nenhum pudor, as incoerências costumeiras.

Primeiro apelida o Governo de despesista mas todos os dias propõe aumento da despesa. Critica a dívida da saúde e recusa-se a admitir que esse crescimento teve a ver com a construção de novas infraestruturas para proporcionar mais e melhores serviços aos Açorianos. Critica o aumento do desemprego e apresenta na Assembleia uma proposta que cria emprego em indústrias inexistentes nos Açores, como são os casos da extração de petróleo e de hulha. Está contra os cortes mas manda os seus deputados votar favoravelmente o Orçamento de Estado onde estes estão previstos.

Este modo de “trabalhar” causa alguns momentos de felicidade aos seus promotores, mas revela muitas fragilidades, sobretudo quando se esperava deste partido uma maior intervenção na concretização de propostas que ajudassem a melhorar a vida dos Açorianos.

Enquanto isto, surgem, de quando em vez, dados que atiram por terra a postura derrotista do PSD-Açores, como foi o caso da execução orçamental conhecida recentemente. Os Açores tem as suas contas controladas enquanto no Continente o deficit agrava-se e a dívida pública sobe para os 134% do PIB, dando a perceber que todos estes sacrifícios pedidos aos Portugueses afinal não serviram para nada.


É por isso que ao PSD-Açores se pede que, no lugar de glorificar o passado, tente ajudar a encontrar soluções para o presente que levem a um futuro melhor e que rejeite, de uma vez, as políticas de empobrecimento perpetradas por Passos Coelho, o amigo de Lisboa. 

21 de agosto de 2014

O amigo Zé Jorge

A morte, com o passar dos anos, cada vez se acerca mais de nós. Leva-nos os familiares mais idosos, nossos e dos nossos amigos, intervalado aqui e ali pelas mortes mais ou menos prematuras, por acidente ou por doença súbita.

Todas essas mortes são dolorosas para os familiares e amigos, mas aquelas para as quais não encontramos explicação convincente, por serem geralmente inesperadas, são as que mais doem. Para essas não estamos, nem nunca estaremos, devidamente preparados.

O amigo Zé Jorge partiu no passado sábado, repentinamente, sem avisar. Para a sua família esta é uma perda irreparável e uma dor difícil de imaginar. Os muitos amigos que o rodeavam ficaram mais pobres e nunca o poderão esquecer.

Conheço o Zé Jorge desde que me lembro. Das brincadeiras na Calheta e no Santo, aos jogos na Praça, passando pelos escuteiros, foram incontáveis dias de uma sã convivência que normalmente marca a vida dos adolescentes.

No Lar Académico, no Faial, o Zé Jorge, que já lá estava há mais tempo, recebia os seus conterrâneos de um modo afável e sempre bem-disposto, fator importante para quem saia da casa dos seus pais com tenra idade e que não sabia ao que ia. O estatuto de mais velho não lhe quartava a vontade de apoiar os mais novos e, como tal, mais instáveis por estarem num ambiente diferente do seu.

Por entre jogos de futebol intermináveis ou partidas de ping pong disputadíssimas, passando pelos acampamentos na quinta e as clandestinas petiscadas, tudo serviu para consolidar os laços que ainda hoje une os que por lá passaram e cujas aventuras serviam de tema de conversa nos inúmeros encontros que fomos mantendo, o último ainda muito recentemente e que recordo com grande saudade.

O Zé Jorge não gostava de dar nas vistas e fugia de protagonismos. Era muito honesto e dotado de grande humildade, qualidades que terá herdado de seu pai. Era trabalhador e gostava de “dar uma mão”, quer aos amigos que dele precisavam, quer nas suas funções profissionais. Parecia reservado, mas no fundo era um excelente conversador e bom contador de histórias. Detestava as injustiças.

Às contrariedades que a vida lhe reservou, e que duras que foram, respondeu com coragem e determinação. 

Como ser humano devia ter também alguns defeitos, mas, sinceramente, nunca os vi. Nunca o vi faltar ao respeito ou ofender alguém. Nunca o ouvi ser maledicente ou mesmo inconveniente.

Quem o conheceu só o pode definir de uma forma: UM HOMEM BOM.