30 de janeiro de 2006

O cerco

Na passada semana realizaram-se as eleições legislativas na Palestina, claro que envolvidas em grande expectativa, primeiro pelos vizinhos e depois por todo o mundo.

Acredito piamente que qualquer país com interesses na área tivesse a sua preferência, até porque estavam e estão em jogo altos valores económicos e até de estratégia geopolítica, nalguns casos incompreensíveis e que, sinceramente, nem nos interessa perceber.

Depois de conhecidos os resultados eleitorais, houve grande algazarra e espanto por parte de alguns países, os países do costume, os chamados polícias do mundo.

Quando se foi a votos, de duas uma: ou se acreditava na democracia e nos seus valores ou então faz-se de conta que é assim e depois não se aceita o seu resultado, porque ele não foi de acordo com o que se pretendia. Esta é fase podre da democracia, aquela em que os mais poderosos querem mudar as regras a meio do jogo, para que os seus interesses sejam satisfeitos integralmente.

Será que alguém no seu perfeito juízo pensaria que na Palestina ficaria tudo como estava? Penso que não, nem os mais optimistas.

Naquela zona do mundo existem seres humanos da minha geração que nunca conheceram a paz, nem conhecem o seu significado, gente oprimida e obrigada a viver numa prisão no seu próprio país, gente que todos os dias vê crescer um muro à sua volta e também cerca as suas definhadas terras, tudo em nome da segurança de alguns.

Ainda há quem prefira morrer de pé a viver sempre ajoelhado, como afirmava Ernesto “Che” Guevara.

23 de janeiro de 2006

Copiar e colar

Cavaco Silva venceu as eleições presidenciais 2006. É verdade que foi por pouco, mas venceu. Glória ao vencedor, honra aos vencidos. É assim a vida…

Confesso que esta derrota da esquerda para mim foi dramática. Se algum dos candidatos, perfilhados à esquerda, tivesse um bom resultado, isto é, um resultado que obrigasse a direita a uma segunda volta, o meu artigo desta segunda-feira estava feito: seria a sua biografia e mais nada... Era fácil, custava pouco, eu ficaria bem no retrato e ainda por cima não era um caso inédito. Á cautela, eu já tinha verificado e, de facto, estava tudo na Internet, não falhava nada. Mas o destino pregou-me esta partida e cá estou eu sem grande assunto para escrever, até porque não me apetece recorrer aos “mails” diários que recebo, nem a artigos de outras publicações. Copiar e colar, nos tempos de hoje, é trivial e está ao alcance de todos, mas, sinceramente, não faz o meu género. Há quem goste…

Enquanto divagava, veio à minha memória os meus tempos de escola e lembro, a quem me conhece mal, que nunca fui um grande aluno, primeiro pela estatura e depois pelo mediano aproveitamento escolar. No entanto há uma cena que jamais esquecerei. Certo dia a minha professora de Português incumbiu a turma de fazer um trabalho sobre um livro de Soeiro Pereira Gomes chamado Esteiros, livro que eu adorava e que ainda por cima já o tinha lido duas vezes. Senti-me bem no papel e confesso que nesse dia “dei o litro”. O trabalho saiu na perfeição, pensava eu.

Mas nestas coisas de testes e exames, e comigo era habitual, precisamos sempre de quem está ao nosso lado. Percebi que o “Manel” (nome fictício), ou não tinha lido o livro, ou não estava a “pescar” nada do assunto. Devagarinho, como quem não quer a coisa, coloquei o meu teste ao alcance dos desorientados olhos do “Manel”, tal como este já fizera comigo noutras situações de verdadeira aflição. Reparei no seu olhar agradecido e, sinceramente, fiquei orgulhoso por também poder ajudar.

O pior estava para vir. O “Manel” entregou o seu teste primeiro que o meu, até porque nestas situações é muito importante não dar nas vistas. Nunca me tinha passado pela cabeça que ele tivesse copiado, literalmente, toda a minha redacção e no fim ainda tivesse acrescentado, em forma de rodapé, tal como eu fizera, “trabalho escrito com uma BIC esfera fina”, brincadeira que eu tinha a mania de fazer com alguma frequência, mas que também expressava a minha preferência por aquele tipo de esferográfica.

Conclusão desta história: o “Manel” teve um bom mais e eu um simples suficiente menos, com a agravante de, no fim do teste, ainda ter visto averbado a seguinte nota a vermelho da professora: copiaste pelo “Manel”, grande coisa. O “Manel” disse-me calmamente, já depois de aliviado pelo stress da entrega dos testes, com aquele olhar maroto e de quem já nada tem a perder: "Ouve lá pá, a culpa é da professora. Eu até escrevi com BIC, mas a minha era de esfera grossa".

Foi uma lição. A partir daí não gosto de copiar nem de quem copia.

16 de janeiro de 2006

Open Internacional de Fotosub


No próximo dia 18 de Janeiro de 2006 vai ser apresentado na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) o I Open Internacional Fotosub Ilha Graciosa, que se realizará em Junho do corrente ano.

A ideia da realização deste evento de nível internacional surgiu logo após a realização do Campeonato Nacional, que se realizou na nossa ilha em Setembro de 2004, tendo em consideração a opinião de muitos participantes, membros dos júri e elementos da Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas, que garantiram ser a Graciosa um local de excepção para mergulho e fotografia subaquática devido, em grande parte, à beleza das inúmeras baixas existentes ao redor da Ilha.

Estas potencialidades já tinham sido referidas pelo professor Luís Saldanha na década de 70 em diversas publicações, onde defendeu, inclusivamente, a implementação de uma reserva marinha, mas sem prejuízos para a pesca profissional. Foi nessa altura também proposta a criação de um centro internacional de mergulho na baía do Filipe, projecto que não teve qualquer progresso devido, sobretudo, à inércia própria daquela época e a nebulosas dúvidas da sua utilidade. O professor Luís Saldanha, estava, de facto, a pensar 50 anos à frente…

Hoje em dia já ninguém tem dúvidas que a ilha Graciosa tem sido projectada e divulgada enquanto destino de eleição para mergulhadores. A quantidade e qualidade da fauna e flora subaquáticas garantem, por si só, o desenvolvimento deste nicho de mercado, sem pôr em causa o nosso rico e sensível património natural.

Os organizadores deste importante evento pretendem, nesta fase, divulgar a ideia e a marca junto dos operadores turísticos, dos clubes do país, das Federações internacionais e dos órgãos de comunicação social especializados.

O Open Internacional decorrerá em vária fases, sendo a primeira a inscrição com a apresentação do porte fólio, seguindo-se a selecção por um júri, no mês de Abril. Os apurados nesta fase virão disputar a prova que terá as seguintes categorias: ambiente sem mergulhador, ambiente com mergulhador, macro sem peixes, tema livre e peixes. No final cada fotógrafo apresentará 6 fotos, uma por cada tema, à apreciação do júri. Os prémios, que serão monetários, destinar-se-ão às três melhores colecções e também à melhor foto de cada categoria.

O financiamento será garantido, por uma lado, com a venda de publicidade e com a participação de um grande patrocinador e, por outro, contará com o apoio da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa e Governo Regional dos Açores.

Esta realização será, sem dúvida, mais um contributo para a afirmação de uma forma de turismo ecológico, que importa dinamizar, e, simultaneamente, terá o intuito de colocar a Ilha Graciosa como capital do mergulho nos Açores.

8 de janeiro de 2006

O melhor património


“GRACIOSA, Açores: uma ilha de simpatia no meio do atlântico.” Esta frase ocorreu-me quando andava à procura de uma que melhor definisse a nossa ilha. É claro que é possível encontrar outras, porventura até com definições mais objectivas ou com maior impacto, mas deixem-me dizer que gosto desta, porque exprime aquilo que sinto.

Vivemos numa pequena ilha cujas belezas ultrapassam a sua própria dimensão. Temos um vulcão adormecido, ar puro, tranquilidade, segurança, águas limpas, natureza intacta e paz, entre outras. Mas o que de melhor temos para oferecer a quem nos visita é a simpatia, que é, sem dúvida, inversamente proporcional ao tamanho desta ilha e constitui o nosso melhor património. E é principalmente esse o “feedback” que recebemos dos forasteiros.

É amplamente conhecida a forma cordial com que se recebem os visitantes, nos lares, nas festas familiares, nas festas dos clubes e filarmónicas, que, por ser tão flagrante, causa por vezes um misto de espanto e admiração.

Evidentemente que isso, apesar de ser uma mais valia, não nos resolve tudo. É preciso aplicarmos essa qualidade a todas as áreas de actuação, de forma a dar corpo a uma qualidade humana importante, vinda de longe e que temos a obrigação de preservar.

Mas, por vivermos em condições excepcionais, tendo em conta o que se passa no resto do mundo, é certo e sabido que os problemas, que também os temos, se transformam em grandes problemas pelas fragilidades que a condição de “ilhéus” nos impõe. É a outra face da mesma moeda.

Deixando para trás algumas das chagas próprias das sociedades modernas e que por cá também constituem uma preocupação, como sejam os consumos de álcool e drogas, ultimamente tem surgido um fenómeno novo, que é o vandalismo. Basta vermos o que se está a passar com os sinais de trânsito espalhados por toda a ilha, constantemente e repetidamente fustigados pela fúria de uns quantos. Dizem-me que é preciso mais vigilância e eu concordo, mas é necessário sobretudo educação e isso dá-se em casa e nas escolas.

1 de janeiro de 2006

Ano novo, tempo novo

Estamos a iniciar mais um ano, um tempo novo, tempo de votos, enviados das mais diversas formas, com claro predomínio da via SMS, cheios de esperança num mundo melhor. Enquanto contava as passas espalhadas na palma da mão, passaram-me pela frente imagens de um mundo cruel, mas que muitos de nós, teimosamente, ainda acreditam que poderá e deverá ser melhor.

Vivemos num mundo que, apesar de estar em constante transformação, fica indelevelmente marcado pela guerra, pela dependência energética (talvez daí a guerra, ou não será assim?), pelos novos desafios da globalização, pela relevância absoluta dos interesses financeiros e pelo tráfico, nas suas mais diversas formas (drogas, seres humanos e influências).

Não seria bom que acabassem todas as guerras? Não é também um sonho de toda a humanidade, pelo menos para os bem intencionados, que as verbas astronómicas gastas na industria da guerra, fossem aplicadas nos cuidados de saúde de continentes fustigados por doenças que ainda tem cura e que ceifam milhões de vidas, na investigação para cura da SIDA e na luta contra a fome?

Devido à tão falada globalização, conceito ainda pouco definido, existe uma grande concentração de capital nos grandes grupos económicos. Por isso os países ricos ficam mais ricos e os países pobres ficam cada vez mais pobres, pois estes últimos não conseguem exportar os seus produtos e as suas matérias primas são desvalorizadas, enquanto os países ricos, para além do grande desenvolvimento tecnológico que registam, continuam a subsidiar a produção, tornando esses produtos artificialmente muito mais competitivos, como acontece com os de origem agrícola. Esta política enaltece apenas os interesses financeiros, em prejuízo do estado de bem-estar social, contribuindo para a desagregação do serviço público e aumento do desemprego provocado pelas sucessivas crises económicas.

Hoje a União Europeia, e não só, paga para não se produzir mais. São os casos do leite, dos cereais, da carne e do peixe, enquanto mesmo aqui ao lado, em África, milhões de pessoas ainda passam fome. As quotas de produção, embora entenda a sua utilidade do ponto de vista económico, são uma aberração quando somos confrontados com esta triste realidade.

As indústrias farmacêuticas, organizadas em autênticos e poderosos lobbys, teimam em não baixar os preços dos medicamentos destinados aos países mais pobres, para tratamento de doenças que, se fossem convenientemente tratadas, não teriam uma mortandade tão elevada.

Como se resolvem estes problemas? Não tenho respostas e a única certeza é a de que não nos podemos conformar nunca.

Hoje já estamos num novo ano. Hoje é dia de renovar a esperança.