31 de janeiro de 2012

Luíz José Coelho



Homem multifacetado que deu muito de si e do seu saber aos outros

(09/01/1925 – 02/05/1995)

O senhor Luíz Coelho era bastante alto e aproveitava esse fator para, nos finais de tarde do período estival, fazer alguns pontos nos jogos de voleibol que se prolongavam até ao anoitecer. Apesar de serem jogos informais, feitos com a roupa que se trazia no corpo, eram levados muito a sério.

O campo de S. Francisco enchia-se de gente - uns a jogar e outros a assistir, como eu - num convívio em que as piadas disferidas durante o jogo, no recinto ou fora dele, por vezes despoletavam pequenas escaramuças logo desfeitas pelo bom senso dos participantes mais calmos, como era o caso dele.

Profissionalmente esteve sempre ligado a máquinas e a motores. Era disso que gostava.

Foi responsável técnico pela Central Elétrica da Câmara Municipal durante muitos anos. Naquele tempo a eletricidade era desligada à 1 da manhã. Para avisar a população de que estava perto dessa hora era feito um sinal de luz por duas vezes. Quando esse sinal tinha mais uma componente todos sabiam que havia um problema nos motores e que o funcionário requeria a presença urgente do senhor Luíz Coelho para o resolver. Nesse tempo isso acontecia com muita frequência.

Era funcionário da Rádio Farol que fornecia importante apoio à navegação aérea. Nunca percebi porquê, mas aquela estrutura era um ponto de visita e, quando lá ia alguém, o senhor Luíz Coelho explicava como aquilo funcionava e mostrava com orgulho os motores impecavelmente mantidos que, segundo as suas exemplificações, arrancavam quando faltasse a energia da rede pública.

Os seus conhecimentos fizeram com que fosse chamado a dar apoio técnico à fábrica de conservas do senhor Manuel Barcelos e à primeira máquina debulhadora que veio para a Graciosa.

Era um amante do mar. Ao leme da sua lancha “Júpiter” facultava alguns passeios aos visitantes e chegou a colaborar em algumas expedições de carater científico ao redor da Graciosa.

Participou ainda na gestão da companhia baleeira do Mota (Pico) e foi presidente da direção do Santa Cruz Sport Club.

Foi também diretor da Adega Cooperativa da Ilha Graciosa, numa altura em que o vinho verdelho e a aguardente davam prestígio a esta ilha.

Era, também, um radioamador reconhecido a nível regional. No âmbito desta atividade lúdica prestava apoio aos habitantes da ilha quando falhavam as comunicações.

No sismo de 1 de janeiro de 1980 as comunicações claudicaram e foi através do senhor Luiz Coelho que as autoridades souberam o que se tinha passado na Graciosa, como foi através dele que os graciosenses ficaram a saber da catástrofe que se tinha abatido na Terceira e S. Jorge. Eu próprio, apanhado na Terceira por esse desastre natural e perante a inoperância do telefone, só tive notícias da minha família e dos estragos que afetaram sobretudo a zona sul da ilha, através de um contato que alguém terá feito com o senhor Luíz Coelho.

Era um “engenhocas”. Improvisava, mas, o que é certo e sabido, é que arranjava solução para tudo. A sua oficina, de fazer inveja a muitos profissionais, tinha ferramentas de todos os géneros, mas quando a reparação exigia um utensílio especial, lá estava ele a inventá-lo na medida certa.

Naquele tempo, quase ninguém tomava decisões sobre equipamentos, motores ou automóveis, sem receber a sua “aprovação” e, claro, de forma gratuita.

Luíz José Coelho foi um homem multifacetado que deu muito de si e do seu saber aos outros, por isso tem lugar cativo na galeria dos Graciosenses que se destacaram.

26 de janeiro de 2012

Desilusão


Desde 2004 que a Agraprome (Associação Graciosense de Promoção de Eventos), nessa altura ainda em fase de constituição, organiza, com alguma frequência, eventos de natureza subaquática, por acreditar que os mares dos Açores constituem um património de valor incalculável. A beleza dos seus fundos conjugada com a temperatura amena das suas águas, a excelente visibilidade e a biodiversidade, fazem dos Açores um destino de eleição para mergulhadores de diversos níveis, desde os principiantes até aos que exigem maiores níveis de dificuldade, passando pelo mergulho técnico.

Foram três fóruns sobre turismo subaquático, dois campeonatos nacionais e três open’s internacionais de fotografia subaquática, organizações que abriram os mares da Graciosa e dos Açores a inúmeros mergulhadores que transformaram muitas fotografias em autênticas obras de arte, algumas plasmadas num livro que aquela associação publicou em 2008, denominado “Graciosa, a capital do mergulho”.

Tem sido uma aposta certa, sem dúvida. A partir de determinado momento este mercado passou a ser visto de outro modo e agora promove-se os Açores como destino de mergulho em diversas feiras mundiais.

Prevê-se o aumento da procura nos próximos anos no nosso país, por isso temos de estar atentos e trabalhar no sentido captar parte desse crescimento.

É para isso que a Agraprome trabalha e foi por isso que apresentou, em meados de 2011, uma candidatura para organizar o 1º Campeonato da Europa de Fotografia Subaquática, ao conselho geral da Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas que se realizou em Roma.

Já abordei estas questões diversas vezes, neste e noutros lugares, mas agora, infelizmente, pelas piores razões.

A Agraprome tinha muitas expectativas nesta prova. Era um passo importante para a consolidação da internacionalização dos eventos deste género realizados na Graciosa e nos Açores, pois previa-se a participação de, pelo menos, 16 países do continente europeu e eram esperados também jornalistas de revistas e sites da especialidade. Era de facto uma jornada importante e que trazia, implicitamente, uma grande responsabilidade aos organizadores, já habituados a esse peso.

Depois de atribuída a sua organização e de anunciada a data da sua realização, soube-se agora que esta prova foi cancelada pelo facto da Federação Portuguesa ter sido sancionada com uma suspensão de 2 anos.

Foi uma desilusão, não haja dúvida. Foi um contratempo com que a Agraprome não contava, de todo.

Mas nestas coisas a adversidade põe à prova as instituições e fortalece-as.

19 de janeiro de 2012

Novo reservatório de água


Hoje foi inaugurado mais um reservatório para abastecimento de água aos agricultores da Ilha Graciosa.
Com uma capacidade de 250 metros cúbicos, irá beneficiar 30 explorações com uma superfície de 210 hectares, este reservatório situa-se no caminho do Pinheiro, na Praia, e custou 53,9 mil euros.

Discernimento


Aparecer na televisão todos os dias é uma tentação. Dar a ideia da omnipresença pode fazer bem ao ego e transmitir a ideia de dinamismo, entrega e defesa da causa pública.

Mas há limites, impostos, mais que não seja, pelo bom senso, que nestas coisas por vezes é bom conselheiro. Não vale tudo por uns momentos de fama.

Tal exposição mediática, por vezes frenética, só deveria acontecer quando se tem algo para dizer ou uma boa nova para anunciar, porque as pessoas estão fartas de opacidades e de joguetes feitos apenas para benefício próprio e, desculpem a expressão, maribando-se para aqueles que deveriam ser os verdadeiros destinatários da sua ação política.

Quando se esgotam ideias há quem se empenhe em utilizar as ideias dos outros. Foi o caso da divulgação de que o novo envelope financeiro seria igual ao atual quadro comunitário de apoio, anunciado como se fosse uma conquista, quando essa informação já tinha sido disponibilizada pelo Governo dos Açores em junho de 2011. É o outro caso recente da defesa do POSEI para os transportes, como se fosse uma ideia original, quando a verdade é que outros já o tinham defendido no passado.

Enfim, tem-se visto de tudo, coisas incríveis, como estas, e que configuram um vazio de imaginação. Agora, quanto mais nos aproximamos das eleições regionais, as coisas vão-se agravando, sem sombra de dúvida.

É ver numa ilha desta região uma líder partidária inaugurar uma obra de um município, que não o dela, descerrando placa e tudo. É ver, noutro concelho, que também não é o dela, a mesma líder partidária falar num jantar de idosos pago pelo município dirigido pelo mesmo partido.

Não estou a ver em que qualidade isso possa ter acontecido. Se foi como líder de um partido político, é, então, porque já não há discernimento…

17 de janeiro de 2012

Industrial e Empreendedor

Manuel de Barcelos Silveira Bettencourt
(06/07/1916 – 15/10/1989)
O senhor Manuel Barcelos foi um empreendedor com visão de futuro. Perante as dificuldades da altura em que viveu, soube erguer uma conserveira, que primeiro se instalou no edifício da Casa do Povo da Praia e depois foi transferida para uma fábrica construída de raiz, na Rochela onde está hoje sedeada uma empresa de construção civil. Estava dotada de equipamento moderno e uma boa rede de frio. Construiu também uma frota de vários atuneiros, com uma capacidade apreciável para capturas de atum.
Para quem não conheceu é difícil imaginar a azáfama no porto da Praia e na linha de fabricação que a atividade da empresa provocava.

Na revista Açores – Madeira, publicada em 1955, Manuel Barcelos era caracterizado como “Braço forte e visão rasgada; incansável e exemplar homem de trabalho” e mais à frente refere que ”vai dotar a sua estimada ilha Graciosa com uma Fábrica de Conservas que ficará a ser a mais importante dos Açores e uma das melhores do País”. No mesmo artigo, aquela revista refere, e passo a citar, “a nova fábrica, que ocupará uma área de 5 mil metros quadrados, e cujo custo, devidamente apetrechada, orçará por cerca de 3 mil contos, constitui, de verdade, um grandioso empreendimento a que o nome e a ação do seu realizador ficarão honrosamente ligados”.

Se vivesse hoje, com os apoios que existem, decerto que este empresário estaria entre os melhores e com uma carreira de sucesso, porque a sua capacidade empreendedora foi sempre maior que as dificuldades que o perseguiram.

Vale a pena também referir outras qualidades, invulgares para aquele tempo. Graças o seu apurado sentido de responsabilidade, fazia honra em cumprir com os descontos para a segurança social dos seus trabalhadores, de tal modo que hoje muita gente, sobretudo mulheres, tem a sua reforma devido a essa preocupação para com o próximo.
Era prática corrente daquele empresário, também, dar trabalho aos homens em pomares e outros prédios, quando a fábrica não laborava, garantindo àqueles o seu ganha-pão em permanência, facto que também era raro naquele tempo e muito relevante, mesmo tendo consciência do prejuízo que isso lhe acarretava.
O senhor Barcelos foi derrotado pela falta de condições que reinava naquele tempo, nomeadamente pelas avarias nos equipamentos e pela ausência de um porto de abrigo que possibilitasse o alargamento da safra a mais alguns meses.

As suas qualidades fazem dele um cidadão de reconhecido valor e mérito, com grandes capacidades empreendedoras e dotado de um notável e invulgar sentido de justiça social.

12 de janeiro de 2012

Sem luz nem brilho


O estado português vendeu, há poucos dias, uma participação na empresa Eletricidade de Portugal (EDP), conforme estava previsto no memorando de entendimento com as organizações internacionais, aquando do pedido de assistência financeira.

Desta venda espero que o país tenha saído a ganhar e que, conforme muitos recearam, não tenha sido vendida a preço inferior ao seu valor. Acredito que os interesses de Portugal deverão ter sido acautelados, para bem de todos nós.

Neste processo de privatizações outras empresas se seguirão, umas com mais implicações para os Açorianos do que outras, como tem sido muito falado e, ainda muito mais, discutido na comunicação social que tem dado um enfase especial a este tema, como aquele a que se assistiu no caso da RTP, que tem implicações diretas na nossa RTP Açores, ou no caso da ANA, que está ligada a questões como investimento e gestão em aeroportos da responsabilidade da república.

Depois de um procedimento deste nível, em que o estado sai voluntariamente de uma empresa que passa para a esfera da iniciativa privada, o que se espera é que também se afaste de maneira a deixar de influenciar a sua gestão, como é lógico e, diga-se com todo o rigor, legítimo.

Na EDP não terá sido bem assim. Quando se esperava uma atitude consentânea com a de um proprietário que acaba de vender, surgem as nomeações para o Conselho de Supervisão onde estão incluídos, proporcionalmente como convém, membros dos dois partidos que dominam o governo e ainda de mais alguém que é muto próximo do Presidente da República. E claro, alguns acumularão vencimentos milionários com as pensões mais pequenas, é certo, mas já de si milionárias também.

Isto está a acontecer numa empresa agora privatizada, imaginem o que virá a acontecer às outras.

Veja-se o recente caso das Águas de Portugal, onde se constata a nomeação de autarcas do PSD e do PP, um deles com um processo pendente nos tribunais precisamente em litígio com a empresa que agora vai administrar.

Mais uma vez Passos Coelho faz precisamente o contrário do que defendeu e prometeu na campanha eleitoral que o levou à vitória. O problema é que esta sua postura está a tornar-se crónica.

Se isto é transparência, vou ali e já venho.

(Publicado no site da Rádio Graciosa www.radiograciosa.com)

11 de janeiro de 2012

Como nós os vimos ou como nós os vemos - Apresentação


O Luís Costa, autor do blogue Graciosa Online, lançou a ideia e fez-me o convite. Claro que aceitei, mesmo correndo o risco de poder não estar à altura deste desafio.

Pretende-se com esta rubrica falar um pouco das pessoas que, de uma maneira ou de outra, contribuíram ou contribuem para o desenvolvimento social, desportivo, cultural e económico da nossa ilha.

A abordagem deste tema terá uma formatação simples e tratará o assunto mais pela perspetiva de como a minha geração viu e vê estes nossos concidadãos, sem grandes recortes históricos ou formalismos literários.

O ser humano tem a memória curta, já sabemos, mas é nossa obrigação, pelo menos cívica, de reconhecer e lembrar as contribuições que mulheres e homens deram para que possamos todos usufruir de um futuro melhor.

Iremos recordar pessoas diferentes, de estratos sociais distintos. Vamos ter por aqui gente mais ou menos simples, com mais ou menos valor, uns com estudos e outros não, mas, garantidamente, terão em comum o amor pela Graciosa. 

Não é intenção de nenhum de nós rivalizar com quem quer que seja. Apenas queremos dar mais um contributo ao reconhecimento e ao valor.
(Publicado no Graciosa Online)

5 de janeiro de 2012

Só para "inglês"ver


A mobilidade de pessoas e bens e o turismo interno constituem, sem dúvida, uma mais-valia para a nossa região.

No período estival quando nos abeiramos de qualquer porto dos Açores verificamos, por entre o buliço natural daqueles espaços de partida e de chegada, que muitos dos viajantes são jovens ou idosos que aproveitam os programas de mobilidade interna que foram instituídos pelo Governo Regional.

Foi esta abertura que tornou as festividades da região mais atractivas e com cartazes mais apelativos, com apostas direcionadas aos diversos públicos destinatários, nomeadamente o mais jovem.

Não consigo entender como ninguém se tenha lembrado disto mais cedo, nomeadamente aqueles que agora se dizem iluminados e a transbordar de soluções para tudo o que seja problema. Não me sai da cabeça como é que numa região arquipelágica como a nossa os governantes da altura não tenham percebido que o mar que nos separa é o mesmo que nos poderá unir. Não percebo como se pôs fim ao transporte marítimo de passageiros de forma unilateral, sem ao menos ter uma alternativa fiável.

Enfim, foram decisões que tornaram a vida dos açorianos muito mais difícil, mais isolada e de horizontes mais fechados.

Hoje em dia, esquecidas que estão estas falhas de governação que nos custaram muito caro, veem-se e leem-se afirmações que tentam branquear o passado, como se tivéssemos memória curta.

É difícil acreditar nas pessoas que estiveram no governo no passado e foram os responsáveis pela estatização da economia dos Açores e pela liquidação do serviço público de transportes marítimos de passageiros, venham agora, de mansinho, defender a iniciativa privada e a criação de uma região económica.

Nos tempos em que o PSD dirigiu esta região a população ativa era mais reduzida e existiam muito menos empresas. Em 1996 tínhamos para cada dois funcionários públicos três na privada. Agora essa relação é de cinco empregados na privada para dois funcionários públicos. Por aqui se vê a diferença.

Chega-se assim à conclusão que estas parangonas são apenas fogachos políticos de baixo teor de credibilidade.