31 de maio de 2006

Desilusão ou talvez não

Vivemos numa ilha pequena, numa região pequena e num país pequeno.

Não obstante a ambição de um povo normalmente extravasa a sua dimensão e é assim que deve ser.

Os graciosenses têm conseguido alguns resultados positivos em termos desportivos em modalidades diversas, como no futebol, no andebol ou no voleibol.

No entanto é preciso termos a consciência que esses bons momentos constituem uma excepção à regra, que advém precisamente da nossa dimensão, em termos geográficos e por conseguinte em termos económicos. Existem realidades duras e que são difíceis de ultrapassar, mas a verdade é que de quando em vez temos sucesso e isso contribui de certa maneira para manter um orgulho especial de quem vive nessa condição.

Temos assistido no nosso país a uma onda de euforia em relação às nossas selecções de futebol, impulsionada por campanhas altamente profissionalizadas de publicidade dirigida a toda uma população. Se as causas destas manifestações se prenderem com a motivação dos intervenientes e aderência da população, até nem acho mal.

O problema é quando são criadas falsas expectativas, quando se coloca em cima da mesa a obrigatoriedade de ganhar ou, por outro lado, a proibição de perder. É evidente esta situação pode fazer vítimas e isso já está à vista, no caso dos nossos Sub 21.

Depois do afastamento ainda na fase de grupos dessa selecção desenrolam-se metros de análises críticas que dão pena, como aquela que ouvi esta manhã: “ao jogar mais arriscado corre-se um maior risco”. Coitado do pequeno que “arrotou” esta sábia frase…

Então o futebol não é um jogo em que o melhor é ganhar, mas a derrota e o empate também estão previstos? Aconteceram à nossa selecção coisas que estou farto de ver por aí: jogar mal e perder, jogar bem e perder também mas por falta de sorte. Afinal tudo normal…

Agora teremos de ter a coragem de não por em causa o trabalho que tem sido feito ao longo dos últimos anos e que tem dado os seus frutos, devido a esta participação com resultados negativos.

A humildade e o medo de perder podem até ter alguma utilidade num processo desportivo, por outro lado a vaidade, a arrogância e o derrotismo crónico não nos servem para nada.

22 de maio de 2006

Não esqueceremos

Ontem (Domingo) num programa da Rádio Graciosa foi lançada a ideia de homenagear, com a construção de um busto em bronze, o graciosense Juventino Silva Correia que nos deixou prematuramente no passado ano.

Esta iniciativa surgiu na sequência de conversas de um grupo de pessoas que anonimamente querem inverter a tendência, que se vem instituindo um pouco por todo o lado, de esquecer rapidamente aqueles que nos deixaram mas que, à sua maneira, contribuíram para a comunidade onde estiveram inseridos e que acabaram por deixar marcas que temos a obrigação de perpetuar.

O Juventino Ramos, como era mais conhecido, é agora lembrado como um excelente poeta popular, bom cantador e, de certa forma, animador e dinamizador de actividades tradicionais ligadas à música que teimava em não deixar cair na penumbra da cultura.

Tudo isso será verdade, certamente, mas o “nosso” Juventino era sobretudo um bom homem. Era humilde, despretensioso e solidário, moldado por uma dura vida de trabalho que nem sempre o compensava.

Esta homenagem não terá um dono. Este gesto será do povo graciosense a quem ele cantou anos a fio, compensado apenas pela satisfação de se sentir também um deles.

17 de maio de 2006

Vale tudo

No plenário de Maio, realizado na passada semana, assisti a mais um triste espectáculo, que se pretendia mediático, protagonizado pelo maior partido da oposição. Aliás este procedimento tem sido habitual nos últimos tempos.

O processo é simples: ao adivinhar grandes dificuldades em vencer nas urnas o partido que está a exercer o poder, como deveria ser, o maior partido da oposição tem enveredado por caminhos eticamente reprováveis, pelo menos no meu entender, optando por um ataque sistemático e cirúrgico ao Presidente do Governo Regional dos Açores.

Um cidadão sentiu-se injustiçado pelo facto de não ter recebido do Governo verbas a que se julgava com direito, no exercício de diversos cargos, nomeadamente desportivos e que o levou a responsabilizar-se pessoalmente por dívidas que, segundo tem sido referido, não tinham cobertura orçamental por parte das entidades que tutelou. Pretendia, assim, que o Governo assumisse esses compromissos. Como sabemos, infelizmente este não é caso único e, por isso, qualquer Governo que resolvesse esta situação particular, teria, inevitavelmente, de resolver todas as outras para não ter problemas no futuro. Ou não seria assim?

É evidente que o Governo não alinhou neste desvario. Outro qualquer mesmo de diferente quadrante político faria o mesmo, não tenho dúvidas.

É claro que o PSD, prevendo que poderia tirar benefícios políticos desta situação, não teve qualquer pejo em patrocinar a defesa deste cidadão e tentar transformar a Assembleia Legislativa num muro de lamentações, com a proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para apurar as alegadas responsabilidades. Já tínhamos assistido a esta colagem a determinados sindicatos, o que denota um paupérrimo sentido de estado a que a oposição também está obrigada.

A ideia com que se fica de todo este barulho é a inequívoca inversão de valores: se o Governo cometesse uma ilegalidade estava tudo bem, mas ao não pactuar com a chantagem e jogo sujo sujeita-se a uma condenação política. É preciso ter paciência…

Tratando-se de um problema jurídico, cabe aos tribunais o apuramento da verdade e a atribuição de responsabilidades, por isso não faz qualquer sentido criar essa Comissão, até porque esse gesto iria abrir, e em muito, as possibilidades de instalar muitas outras Comissões sempre que existisse uma frágil suspeição ou quando houvesse a necessidade de destruir um adversário político, como parece ser o caso.

O que parece ainda mais irresponsável é que, como toda a gente sabe, as verbas atribuídas no âmbito do apoio ao desporto e da promoção turística são sujeitas a critérios previamente definidos, depois publicadas no Jornal Oficial e por isso espelhadas em transparentes contratos-programa que estão acessíveis a todos.

O Dr. Costa Neves está “embrulhado” numa nuvem de suspeições acerca do abate dos sobreiros no Alentejo e lá por isso ninguém pediu uma Comissão Parlamentar de Inquérito para aferir a sua culpabilidade nesta matéria. Outras instâncias terão essa responsabilidade e, como é óbvio, até ao apuramento da verdade a sua inocência nunca poderá ser posta em causa.
Ao longo da nossa existência temos como objectivo primordial ter uma vida com sentido e, pelo menos, razoável. Cometemos muitos erros porque o difícil é conciliar o pensamento com a acção.

8 de maio de 2006

Mude-se a guerra


A Ilha Graciosa nos últimos tempos tem sido fustigada por uma série de acontecimentos, contrariando assim a fama de terra pacata e de brandos costumes. Tais foram as situações que o seu eco conseguiu mesmo ultrapassar o mar que tanto nos isola e projectar a ilha para outras paragens, só que de um modo negativo, uma publicidade dispensável e que não nos ajuda em nada, coincidindo com o momento em que se faz um esforço para promover a nossa região como um destino próximo da natureza e com a preparação da candidatura a Reserva da Biosfera.

A PSP e a Câmara Municipal estabeleceram um acordo (?) para o abate a tiro dos cães errantes, ou melhor, dos cães que circulam livremente pelas nossas ruas ou que são abandonados pelos seus proprietários e que têm por hábito atacar outros animais, sobretudo quando a fome aperta.

Os graciosenses dividiram-se. Por um lado estavam os proprietários dos caprinos sistematicamente prejudicados pela carnificina provocada pelos ataques dos cães famintos e por outro os que defendem os direitos dos animais e, por conseguinte, defendendo também que a tomar-se uma decisão de abater os animais, que isso seja feito com o mínimo de dignidade e cumprindo a lei existente. Uns e outros terão a sua razão, certamente. Não vejo é qualquer fundamento para se tomar aquela decisão.

O assunto foi muito badalado por todo o país, mas volto a escrever sobre ele apenas porque ainda não se vislumbra no horizonte qualquer solução e, como tal, corre-se o risco de voltar ao mesmo muito em breve, não obstante o tão malogrado acordo esteja suspenso, graças a Deus.

Agora que as armas descansam e que as forças policiais desmobilizaram da importante missão da caça ao cão, porque não aproveitar este momento de acalmia e o súbito desejo de trabalho em parceria da Câmara com a PSP, para fazer um outro acordo, este para fiscalização e aplicação de coimas a todos os que, com todo o tipo de lixos e entulhos, estão a conspurcar muitos recantos da nossa ilha?

1 de maio de 2006

Educação - aposta a ganhar

A educação tem merecido sempre uma atenção especial do poder político instituído após a conquista da liberdade em 1974. Até aí o acesso ao ensino estava reservado apenas a uns poucos, por isso também os espaços escolares eram escassos e sem qualidade.

Com a revolução de Abril assistiu-se à democratização do acesso ao ensino e, por conseguinte, à crescente necessidade de aumentar o parque escolar.

Nos Açores esse percurso também foi feito e neste momento a região tem, sem dúvida, um sistema educativo exemplar, considerado mesmo pioneiro a nível nacional.

Nos últimos anos foi feito um esforço sem precedentes nas infra-estruturas escolares e desportivas, na informatização, no acesso ao conhecimento e, sobretudo, na reforma profunda dos modelos de organização e de gestão das nossas escolas, responsabilizando cada vez mais todos os intervenientes, incluído os pais que, apesar das recentes alterações legislativas lhes dar poder, ainda participam muito pouco no processo educativo dos filhos.

Neste momento está em curso a discussão de uma proposta de decreto legislativo que irá substituir vinte e um diplomas dispersos. É um passo importante de encontro à clarificação e simplificação.

Recentemente foram instalados mil computadores nas escolas e até ao fim do ano serão instalados mais mil e quinhentos. O objectivo é ter instalado um computador por cada dez alunos, que representa um rácio superior à média europeia.

Os resultados destas apostas não são imediatos, terão antes impacto nas gerações seguintes, daí o cuidado que deverá ter-se nas suas interpretações.

No entanto são já visíveis melhorias significativas nos indicadores. Neste momento a taxa de abandono escolar na nossa região é de 1,7 %, enquanto em 1996 era de cerca de 10 %.

Um exemplo que demonstra bem da importância que a educação tem na vida prática dos cidadãos é o da situação dos presos da cadeia de Angra do Heroísmo. Vinte e seis do total de oitenta presos estão detidos por não terem a escolaridade obrigatória. Foram reincidentes no crime de condução sem carta, precisamente por não terem a escolaridade mínima obrigatória para poderem habilitar-se à obtenção desse documento, que não seria mais do que um instrumento de trabalho que tanto necessitam.

É fácil também verificar-se que grandes somas tem sido investidas nesta área, não só pelas importantes obras em escolas degradadas, como é o caso da nossa, e na construção de novas instalações, mas também em recursos humanos. Na região temos um professor para cada sete alunos, enquanto o custo de uma hora / professor situa-se entre os 53,5 euros e os 187,92 euros.

Estando assim criadas todas as condições, porque será que todos os anos ficam cerca de 30 % de aulas por dar?