24 de abril de 2006

O exemplo da Rosa

O Desporto na Região Autónoma dos Açores tem crescido de uma forma marcante, não só em número de praticantes, mas também em qualidade e também pelo acompanhamento da construção de estruturas desportivas. Isso faz perceber o enorme esforço do investimento público que foi preciso fazer desde a conquista da autonomia.

Em termos de praticantes verificou-se o crescimento do número de atletas federados em cerca de 60 % desde a época desportiva 1995/1996. No caso dos escalões de formação houve mesmo uma duplicação do número de atletas, tendo como referência a época desportiva 2002/2003.

Com referência a 2005 contacta-se que nos Açores temos perto de 20 mil atletas federados com 75 % deles nos escalões de formação, integrados em 235 clubes onde se pratica 30 modalidades diferentes. Estão também registadas 40 associações, que tem a incumbência de organizar as competições locais e regionais, enquadradas por cerca de 1.100 dirigentes desportivos e mais de 600 treinadores. Foram 33 as equipas que participaram regularmente em competições nacionais em 2005, enquanto foram 17 atletas integrados nas selecções nacionais. Nas modalidades individuais tivemos 34 campeões nacionais e a nível de clube tivemos 4 que alcançaram o título nacional nas modalidades de voleibol, basquetebol e ginástica aeróbica.

Analisando estes valores, e comparando com outras zonas, chega-se á conclusão que os Açores tem uma taxa de federados de cerca de 8 %, enquanto na Madeira a taxa é de 5 % e no Continente Português é de apenas 3 %.

Em termos legislativos também no ano passado foi dado um passo importante com o Decreto Legislativo Regional 14/2005/A que vem também regular todo o apoio ao movimento associativo desportivo e reorganizar as prioridades e orientações dos apoios do Estado, juntando num só diploma toda uma panóplia de informação que se encontrava dispersa e, talvez por isso, pouco acessível e, como tal, pouco eficaz.

É certo que embora exista a noção que seguimos por um bom caminho, já se vislumbram no horizonte alguns problemas, nomeadamente no que se refere ao dirigismo desportivo e associativo. Hoje em dia ser dirigente de um clube ou de uma associação implica, com todos sabem, abdicar de muita coisa em favor de projectos que não serão obrigatoriamente vencedores em termos desportivos, mas que terão certamente muito valor nas comunidades onde esses organismos estão integrados, se executados de uma forma coerente e dinâmica.

A Gala do Desporto Açoriano, que já vai na sua V edição, realizada na passada semana e que o Director Regional do Desporto considerou ser “um momento sublime e importante, de homenagem pública em reconhecimento àqueles que tem produzido desporto com qualidade nesta Região”, serve, além do atrás referido, para dar alento e novo fôlego a todos os que fazem desporto e àqueles que fazem fazer desporto. O reconhecimento feito pelas entidades públicas a esta gente, que entrega parte do seu tempo ao fenómeno desportivo de uma forma abnegada, será certamente um forte contributo para o surgimento de novos quadros, com todos esperamos.

A estrela da cerimónia da entrega dos troféus aos desportistas açorianos que mais se distinguiram no ano de 2005 foi a conhecida Rosa Mota, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988. É uma figura de uma simpatia incrível e dotada de uma humildade impressionante, como já não se vê por aí. Contou aos presentes uma história engraçada: já há muito tinha iniciado a sua carreira quando conseguiu arranjar as suas primeiras sapatilhas de competição, com o generoso número 37 quando apenas calçava o 35. Mais tarde, quando se preparava para participar num Campeonato do Mundo ofereceram-lhe umas excelentes e modernas sapatilhas de competição, agora com o tamanho certo. Com medo de as perder ou que a roubassem, até porque os recursos eram escassos, a Rosa passou a ter as suas sapatilhas sempre por perto, até mesmo quando dormia.

São assim os grandes campeões.

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