10 de novembro de 2011

Entre o dizer e o fazer


Quando Portugal se submeteu à intervenção da troika era previsível que grandes sacrifícios estavam reservados aos portugueses, não só por via das grandes reformas mas também pela pressão fiscal que se adivinhava.

O esforço para a redução do défice e consolidação das contas públicas a isso obrigava, sem dúvida, porque a crise instalada em 2008 no mundo, na europa e em Portugal, obrigou, por um lado, a um grande esforço financeiro do nosso país para manter postos de trabalho e apoios sociais e, por outro lado, vimo-nos confrontados com uma drástica diminuição das receitas, enquanto a banca, enredada na malfadada falta de liquidez, não conseguia financiar a economia.

O curioso neste processo é que o partido que se insurgiu contra o chamado PEC 4, fê-lo, supostamente, na convicção de que era impossível pedir mais sacrifícios aos portugueses, sobretudo à classe média. Esta atitude foi bem recebida pelos eleitores, que, aliás, acabaram por confirmar isso mesmo nas urnas, no acto eleitoral que se seguiu.

Esta maneira de ver na altura e o modo de actuar agora, diz-nos apenas e só que se tratava de uma medida meramente populista, ao estilo caça votos. Mas lá que resultou, resultou…

Notam-se, neste momento, grandes contradições ou jogo de cintura, como é comum denominar-se estas diferenças entre o dito e o feito.

Para quem chumbou um programa de estabilidade e crescimento com o argumento de que não poderia subscrever um aumento da carga fiscal e agora procede ao maior ataque à classe média de que há memória, por via do aumento brutal de impostos, isto pode significar que a palavra dada é irrelevante para este governo.

Para quem se insurgia constantemente contra as reformas na saúde, na administração pública, na justiça, pondo constantemente em dúvida o encerramento de serviços sobredimensionados ou desnecessários e agora prepara o desmantelamento cego do Serviço Nacional de Saúde e despedimentos na função pública, isso quererá dizer que na oposição fizeram um mau trabalho, sem o sentido de estado que um partido do arco do poder deveria ter. Lutaram pela justiça tributária e agora acabam com as deduções fiscais em sede de IRS.

Na oposição abominaram reformas, juntando-se às populações que contestavam a perda de direitos, enquanto agora anunciam um novo imposto em cada dia, reformas atrás de reformas que implicam explicitamente cortes na força do trabalho, sem nunca explicar, ou explicar mal, como vai crescer a economia.

Em tempos exigiam mais emprego para os jovens e agora os responsáveis políticos recomendam que estes procurem trabalho lá fora. Tal como prometiam não mexer nos subsídios de natal ou de férias e agora é o que se vê.

Por isso se conclui que não será totalmente exacto quando o PSD diz que o interesse nacional está acima de tudo, porque, como se vê, o interesse partidário comanda, por vezes, os desígnios da nação.

Também poderemos constactar que “falar verdade” nunca mais poderá ser o lema deste partido que jurava prezar esse valor.

Por muito menos o Presidente da República apelou a um “sobressalto cívico”.

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