12 de fevereiro de 2006

A nova onda

Segundo cita António Borges do Canto Moniz, no livro Ilha Graciosa - Açores Descripção Histórica e Topographica, escrito no ano de 1883, a nossa ilha terá sido achada por volta do ano de 1450, a partir das Quatro Ribeiras que, devido à sua localização geográfica na parte norte da Ilha Terceira, local onde os descobridores teriam feito o primeiro assento, puderam avistar a Graciosa e, acredita-se, na primeira viagem a esta ilha, os descobridores terão visto as restantes ilhas que constituem o grupo central do arquipélago.

Depois do seu descobrimento, e segundo o mesmo autor, mandaram da Terceira lançar-lhe gado. Então, Vasco Gil Sodré, homem distinto e natural de Montemor-o-Velho e que vivia em Angra do Heroísmo, passou para esta ilha com a sua família e empregados, tendo desembarcado na zona do Carapacho, onde construiu uma casa e instalou a alfândega. Esta foi a primeira onda…

É certo também, e os dados históricos confirmam, que, pouco tempo depois do povoamento das ilhas, também pela Graciosa começaram a surgir todo o tipo de piratas (holandeses, espanhóis e argelinos) que atacavam os navios que por cá se abrigavam, principalmente aqueles que vinham das Indías, com as suas preciosas cargas, e despojavam a população dos seus bens, usando a força e cometendo todo o tipo de atrocidades. Assim tivemos diversas invasões, algumas com resultados dramáticos, como foi o caso da morte do capitão donatário Duarte Barreto nas mãos dos espanhóis, e outras em que os graciosenses conseguiram ripostar com valentia, como foi o caso da que aconteceu em 1623 na Vitória, onde os mouros, que tencionavam roubar naquela parte da ilha, encontraram gente determinada e corajosa que lhes fez frente. As invasões constituíram assim a segunda onda.

Ao longo de toda a nossa história outras dificuldades são referidas, com foi o tempo em que contávamos com excedente de população para os recursos existentes, obrigando uma grande parte dela a procurar um melhor futuro noutras paragens. Esta foi também uma grande onda, ou melhor, muitas e pequenas ondas com sentido contrário, que nos roubam regularmente e desde há muito, gente jovem e laboriosa que procura o sucesso e a felicidade noutras paragens.

Apesar de sermos uma comunidade pequena e, talvez por isso, pacífica, as questões de segurança tiveram e tem cada vez mais razão de ser. No passado a segurança teve certamente outra importância e impacto, mas hoje em dia é, com toda a certeza, um dos pilares da liberdade e da justiça, desde que implementada de uma forma coerente.

A Polícia de Segurança Pública para mim sempre representou e representa uma instituição respeitável e de importância crucial, porque a sua presença é estabilizadora e a sua acção inibe os infractores, mas, sem dúvida, o papel mais importante que lhe está reservado é a sua actuação pedagógica que renderá, com toda a certeza, resultados positivos a breve trecho.

Sinceramente não consigo entender como é que a deslocação de diversos elementos da secção de trânsito do exterior e a sua actuação incisiva e rigorosa nas ruas da Graciosa, apenas nos poucos dias que cá estão, poderá ser reconhecida como benéfica. Com isto não quero de maneira nenhuma afirmar que não se devem fazer as chamadas operações stop e a restante fiscalização relativa ao trânsito, antes pelo contrário: temos que acabar com excesso de ruído, com as faltas de seguro e inspecção dos veículos, com o excesso de velocidade, com a condução sobre efeitos de álcool e estupefacientes, temos de disciplinar o trânsito.

Estas e outras acções devem ser feitas, mas mantidas de uma forma regular e nunca para embelezar estatísticas. Que nunca mais se diga, como alegadamente constou, que numa semana se facturou mais que durante um ano…

Não acredito estarmos perante uma nova onda, mas se assim for haveremos de sobreviver, tal como aconteceu com os nossos antepassados.

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