13 de outubro de 2011

Não é para todos

Carlos César anunciou no passado dia 7 de Outubro que não se recandidatava a Presidente do Governo dos Açores no acto eleitoral previsto para 2012.

Foi uma atitude muito digna, que não está ao alcance de todos, e que, certamente, fará história na política regional, por demonstrar um desprendimento inusual e, sobretudo, por querer honrar a palavra dada aquando da sua reeleição em 2008.

Na sua intervenção explicou de forma concisa aquilo que o levou a tomar essa decisão, que, segundo o próprio, foi pessoal, muito reflectida e tomada há muito.

Confesso que fazia parte do grupo de muitos e muitos açorianos que julgava e desejava que o seu anúncio fosse no sentido contrário.

A esses não resta outra alternativa senão aceitar e admirar aquele que, perante apelos de vários sectores da nossa sociedade, declinou essa possibilidade assente em declarações passadas.

É certo que existiam diversos pareceres jurídicos independentes que apontavam para a admissibilidade da sua candidatura, mas Carlos César optou por respeitar e cumprir a palavra dada, o que dá uma grande dimensão a este gesto.

Carlos César irá cumprir, em 2012, dezasseis anos à frente dos Açores em quatro governos do Partido Socialista.

Não caberia aqui o muito que foi feito durante este período. Da saúde, à agricultura, passando pelas pescas e pelas políticas sociais, não esquecendo o ambiente, o turismo e a revitalização do tecido empresarial, os Governos do Partido Socialista impuseram um forte ritmo de desenvolvimento que contribuíram decisivamente para a convergência com o resto do país e com a Europa. Esta é a marca indelével do Partido Socialista e que ficará, certamente, para memória futura.

Quando se reflecte sobre estas questões o que se depreende é que nos Açores Carlos César dirigiu com mestria, durante dezasseis anos, políticas dirigidas às pessoas e impôs rigor nas finanças públicas, não se conhecendo, por isso, casos de corrupção nem de abuso de poder, mas, não obstante, quando teve oportunidade para isso, uma das coisas que colocou, em sede de revisão do estatuto político-administrativo, foi a limitação de mandatos. Aqui mesmo ao lado, na Região Autónoma da Madeira, temos um líder acossado por todo o lado e com mais de trinta anos de poder, a terminar mais uma luta para se perpetuar no poder apesar das acusações graves de má gestão dos dinheiros públicos e de encobrimento da dívida, que ultimamente foram denunciadas e que inexplicavelmente surpreenderam muita gente.

Alguns dirão que é a ironia do destino, mas o que aqui está em causa é a profunda diferenciação entre duas maneiras de estar na política e entendimento da causa pública.

Adiante… A 7 de Outubro, o tal dia do anúncio público de Carlos César, alguma oposição terá festejado efusivamente, porque, e isso notava-se no constante frenesim quando se falava nestas coisas, estava refém desta decisão e vivia acantonada com medo do adversário, em prejuízo da confiança que deveria ter no seu próprio projecto político.

Essa oposição julgava que o Partido Socialista iria passar por uma incontornável, segundo eles, longa noite das facas longas. Nada de mais errado. Poucas horas depois os órgãos internos do partido reagiram, indigitando e aprovando o nome de Vasco Cordeiro para candidato a Presidente do Governo, sem qualquer contestação. Foi uma escolha acertada porque Vasco Cordeiro é respeitado pelos açorianos, é um jovem com larga experiência política, conhece como ninguém os Açores e domina os principais dossiers do Governo dos Açores.

Foi uma resposta rápida que demonstra a coesão no seio de um partido responsável que entende que os Açores estão acima de qualquer projecto pessoal.

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