14 de dezembro de 2012

Alegre e conversador


Manuel da Ajuda Pereira Lima

(08/11/1943 – 01/03/2007)

O isolamento das nossas ilhas sempre foi combatido com fortes tradições muito enraizadas no nosso povo. Na Graciosa a música sempre ocupou um lugar de destaque no panorama cultural.

Antigamente existiam alguns divertimentos, como os diversos jogos de cartas e dominó, mas pelos bailes os Graciosenses deixavam tudo. Novos e velhos, todos gostavam de bailar e de cantar. Era desta maneira salutar que o nosso povo se divertia e confraternizava.

Nos bailes de carnaval, na matança do porco ou integrando grupos folclóricos, habituamo-nos a vê-los de viola a tiracolo, dedilhando e cantando músicas do reportório popular. Eram homens e mulheres, quase sempre bons foliões, que ocupavam os tempos que restavam da dura labuta do dia-a-dia divertindo os outros e fazendo o que mais gostavam: tocar.

O Manuel da Ajuda era um deles. Tocava muito bem a viola da terra. É impressionante ver tocar este instrumento. Com 12 de cordas (existe também uma versão com 15 cordas), a viola da terra emite uma sonoridade peculiar que se conjuga harmoniosamente com outros instrumentos musicais.

A aprendizagem da viola da terra era feita de um modo empírico, vendo os outros ou experimentando uma e outra vez, com muita persistência e dedicação. O Manuel da Ajuda também se fez executante assim, depois do senhor Manuel do Júlio lhe ter transmitido o gosto por este instrumento e lhe ter dado os primeiros ensinamentos.

A viola da terra é tipicamente Açoriana. Embora muito semelhante ao violão, é mais pequena e tem dois corações na boca, com as pontas opostas, que, dizem os entendidos, representam o amor entre duas pessoas que estão separadas fisicamente.

Desde o início que o Manuel da Ajuda tocou nas danças do senhor Francisco Sampaio. Foi membro do Grupo Folclórico da Casa do Povo da Praia. Tocava também em grupos de Reis pelos caminhos da Graciosa, visitando, nas frias noites de inverno, as casas em festa, espalhando alegria e boa disposição a quem os recebia. Era também muito solicitado para animar os bailes de carnaval com as modas de viola.

Em 1988 participou num concerto com 24 violas da terra, na freguesia de Guadalupe, dirigido pelo incontornável Padre Simões Borges.

Era agricultor de profissão. Vivia do rendimento que lhe dava o gado bovino que pastoreava nas suas terras.

Gostava muito de pescar. Dizem os mais próximos que o Manuel da Ajuda tinha errado na profissão, pois gostava tanto do mar que deveria ter sido pescador. Aos familiares e amigos terá dito que quando chegasse a idade da reforma iria dedicar-se à pesca. Infelizmente não chegou a gozar esse privilégio porque a morte, com os seus ditames, roubou-lhe esse sonho.

Era muito alegre e divertido e um bom conversador. Com os seus colegas da música, o Manuel Zagaia e o José Helder, entre outros participava em tertúlias que eram momentos de pura diversão, como acontecia frequentemente na tasca do senhor Álvaro.

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