Manuel da Ajuda
Pereira Lima
(08/11/1943 –
01/03/2007)
O isolamento das nossas ilhas
sempre foi combatido com fortes tradições muito enraizadas no nosso povo. Na
Graciosa a música sempre ocupou um lugar de destaque no panorama cultural.
Antigamente existiam alguns
divertimentos, como os diversos jogos de cartas e dominó, mas pelos bailes os
Graciosenses deixavam tudo. Novos e velhos, todos gostavam de bailar e de
cantar. Era desta maneira salutar que o nosso povo se divertia e confraternizava.
Nos bailes de carnaval, na
matança do porco ou integrando grupos folclóricos, habituamo-nos a vê-los de
viola a tiracolo, dedilhando e cantando músicas do reportório popular. Eram
homens e mulheres, quase sempre bons foliões, que ocupavam os tempos que
restavam da dura labuta do dia-a-dia divertindo os outros e fazendo o que mais
gostavam: tocar.
O Manuel da Ajuda era um deles.
Tocava muito bem a viola da terra. É impressionante ver tocar este instrumento.
Com 12 de cordas (existe também uma versão com 15 cordas), a viola da terra
emite uma sonoridade peculiar que se conjuga harmoniosamente com outros
instrumentos musicais.
A aprendizagem da viola da terra era
feita de um modo empírico, vendo os outros ou experimentando uma e outra vez,
com muita persistência e dedicação. O Manuel da Ajuda também se fez executante
assim, depois do senhor Manuel do Júlio lhe ter transmitido o gosto por este
instrumento e lhe ter dado os primeiros ensinamentos.
A viola da terra é tipicamente
Açoriana. Embora muito semelhante ao violão, é mais pequena e tem dois corações
na boca, com as pontas opostas, que, dizem os entendidos, representam o amor
entre duas pessoas que estão separadas fisicamente.
Desde o início que o Manuel da
Ajuda tocou nas danças do senhor Francisco Sampaio. Foi membro do Grupo
Folclórico da Casa do Povo da Praia. Tocava também em grupos de Reis pelos
caminhos da Graciosa, visitando, nas frias noites de inverno, as casas em
festa, espalhando alegria e boa disposição a quem os recebia. Era também muito
solicitado para animar os bailes de carnaval com as modas de viola.
Em 1988 participou num concerto
com 24 violas da terra, na freguesia de Guadalupe, dirigido pelo incontornável
Padre Simões Borges.
Era agricultor de profissão. Vivia
do rendimento que lhe dava o gado bovino que pastoreava nas suas terras.
Gostava muito de pescar. Dizem os
mais próximos que o Manuel da Ajuda tinha errado na profissão, pois gostava
tanto do mar que deveria ter sido pescador. Aos familiares e amigos terá dito
que quando chegasse a idade da reforma iria dedicar-se à pesca. Infelizmente
não chegou a gozar esse privilégio porque a morte, com os seus ditames,
roubou-lhe esse sonho.
Era muito alegre e divertido e um
bom conversador. Com os seus colegas da música, o Manuel Zagaia e o José
Helder, entre outros participava em tertúlias que eram momentos de pura diversão,
como acontecia frequentemente na tasca do senhor Álvaro.
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