Estando sob a intervenção
internacional para financiar o país, ficamos, indiscutivelmente, numa condição
de estado com a soberania hipotecada, já se sabia.
Sempre que se pensa em algo de
mais construtivo, como foi o caso recente da pretensão de aumentar o salário
mínimo nacional, logo o governo de Passos Coelho se apressou a dizer que tem de
pedir autorização à troika, que, por
sua vez, depois de analisar o problema dá o seu veredicto.
Mas o país vai assim. Assiste-se
ao falhanço de todas as metas negociadas no memorando de assistência
financeira, apesar da enorme e desproporcionada carga fiscal a que estamos
todos sujeitos, mas, mesmo assim, o ministro das finanças vem dizer que não,
que acertamos em quase todas e as que falhamos foi, mesmo assim, por muito
pouco.
Mas para esta confusão toda
contribuem os membros deste governo e todos os líderes europeus bem como as
organizações internacionais que não se cansam de dizer isto e aquilo e depois o
seu contrário.
Merkel veio dizer que vamos no
bom caminho. Depois vem a diretora do FMI dizer que é preciso prudência. Mais
tarde a OCDE diz que não vamos conseguir. O Presidente do BCE vem dizer que o
pior já passou. Depois vem Paulo Portas afirmar que já passamos o meio da
ponte. Mais tarde ouvimos Merkel dizer que, afinal, está descontente com a
prestação dos países periféricos, como Portugal. Enquanto isto Passos Coelho
tem a certeza que este é o caminho certo, mesmo assistindo ao desmantelamento
de empresas e destruição de emprego a cada dia que passa.
Não haja dúvida que a chanceler
da Alemanha concorda com a gigantesca carga fiscal que os países em
dificuldades impõem aos seus cidadãos. Essa tem sido, de facto, a sua receita.
A senhora Merkel tem confirmado
que esta é a via para a recuperação e não se cansa de propalar essa ideia em
todas as aparições públicas que faz fora do seu país, mas quando fala para os
seus concidadãos, para os seus eleitores, a sua opinião muda completamente. Lá,
no seu país, Merkel descarta qualquer aumento da carga fiscal para a classe
média, que considera o motor do desenvolvimento. O que se percebe é que na
Alemanha a senhora Merkel quer uma classe média e média alta pujante para
estimular o consumo e assim proporcionar o crescimento. Para os outros a
receita é precisamente o contrário: o empobrecimento da classe média que, por
sua vez, diminui o consumo, contribuindo, assim, para a destruição de mais
empregos.
Estas diferenças de entendimento,
estas interpretações dúbias não faziam parte do pensamento dos construtores da
Europa, com toda a certeza.
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