22 de novembro de 2012

Políticas de Pescas e Valorização do Mar



Senhora Presidente da Assembleia

Senhoras e Senhores Deputados

Senhor Presidente do Governo

Senhora e Senhores Membros do Governo

Na minha primeira intervenção nesta que é a X Legislatura quero aproveitar a oportunidade para a felicitar, Senhora Presidente da Assembleia, e para lhe desejar os maiores sucessos na condução dos trabalhos desta casa que é, no fundo, a sede da autonomia.

 A si, Senhor Presidente do Governo, também lhe desejo as maiores felicidades na execução do Programa do XI Governo da Região Autónoma dos Açores, que agora nos encontramos a discutir, para bem de todo o povo açoriano.

A economia do mar é uma prioridade estratégica para a região, no conjunto dos seus sectores e subsectores. É geradora de emprego e de mais-valias, mas o seu potencial de crescimento é enorme a curto e médio prazo.

Os três milhões de metros quadrados da plataforma continental ao redor do arquipélago dos Açores para além de representar novas oportunidades representam também uma responsabilidade acrescida na proteção e no aproveitamento dos recursos, quer vivos, quer minerais ou energéticos.

A abordagem das questões ligadas ao mar assume, nos tempos que correm, uma outra dimensão, muito diferente da visão do passado, que era assente em apenas três vertentes da sua utilização: os transportes, a pesca e a extração de inertes.

Ao contrário do que era tido como, de todo, desconhecido, hoje sabe-se que o mar dos Açores encerra uma série de recursos naturais importantes e por isso há a necessidade de garantir que sejam explorados de forma a não por em perigo o equilíbrio ambiental e tragam benefícios económicos à região, não só por via do valor acrescentado, mas também pelos avanços tecnológicos que a economia do mar pode trazer.   

Também hoje temos consciência das ameaças existentes sobre os recursos vivos, provocados pela exploração pesqueira e a poluição, ambas causadas pela intervenção humana, que podem por em causa espécies e habitats.

Estas duas premissas indicam o caminho a seguir.

Por um lado temos de avançar para novos usos do mar dos Açores em áreas como a ciência, a biotecnologia, a energia, o turismo e os recursos naturais.

Por outro lado apresentam-se-nos importantes desafios na gestão dos recursos piscícolas que nos levarão, indubitavelmente, à diversificação, à gestão cuidada das pescarias, à valorização do pescado e à constituição e regulamentação de zonas de proteção.

Senhora Presidente da Assembleia

Senhoras e Senhores Deputados

Senhor Presidente do Governo

Senhora e Senhores Membros do Governo

Nos fundos do mar dos Açores e em volta das fontes hidrotermais foram detetados sulfuretos polimetálicos, muito ricos em cobre, zinco e ferro, e jazidas de hidratos de metano, uma potencial fonte de energia para o futuro. A introdução de inovação tecnológica no aproveitamento destes recursos poderá gerar progresso nas nossas ilhas.

A pesca desportiva, a navegação de recreio, o mergulho, a observação de cetáceos e de aves marinhas constituem atividades componentes da indústria de animação turística que encerram potencial de crescimento e com capacidade para captar mais investimento e criar emprego.

A pesca tem um impacto socioeconómico importante nos Açores, porquanto representa cerca de 20% das exportações e 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB), absorvendo mais ou menos 5% da população ativa. 

Com as oscilações verificadas em algumas pescarias, nomeadamente na pesca demersal – conforme é notório nos casos do Boca Negra, Congro, Goraz, Pargo e Peixão – é fundamental diversificar as capturas, pescando mais longe e mais fundo, agora que as embarcações estão melhor preparadas para isso, com boas condições de habitabilidade e de segurança, fruto do investimento feito na renovação da frota de há dezasseis anos a esta parte.

É importante diversificar a própria atividade, enveredando por novos aproveitamentos, nomeadamente na pesca turismo.  

A formação dos profissionais do mar é, também, fundamental para a aquisição de novas competências e reciclagem de conhecimentos para a alteração do paradigma que se exige neste momento.

A forma descentralizada como a formação está organizada permite melhores índices de sucesso, porque a leva até todas as ilhas da região. O grau de mestrança terá, num futuro próximo, o seu enquadramento no Centro de Formação de Marítimos dos Açores, com conteúdos transversais a outros utilizadores do mar.

Pelas razões apontadas anteriormente o sucesso das pescas não passa pelo aumento do esforço ou sobre-exploração dos recursos, passando antes pela valorização do pescado, o que traz novas responsabilidades que terão de ser resolvidas por via da formação dos profissionais. Boas práticas no manuseamento dos produtos da pesca desde a captura, passando pelo acondicionamento e embalamento, até ao seu escoamento e entrega ao cliente final, trarão, certamente, mais-valias importantes. A reforma e o reforço da rede de frio que está em curso e que se iniciou na última legislatura, trará, com toda a certeza, novas capacidades para atingir esse desiderato.   

Senhora Presidente da Assembleia

Senhoras e Senhores Deputados

Senhor Presidente do Governo

Senhora e Senhores Membros do Governo

A Região Autónoma dos Açores está e estará, num futuro próximo, sujeita a grandes pressões todas no sentido de redução de direitos sobre os seus recursos.

Advinham-se, por isso, enormes desafios para os Açores nos próximos tempos. A firme recusa em “embarcar” em ideias centralistas vindas de S. Bento ou de Bruxelas tem de ser a nossa bandeira.

A defesa da gestão açoriana dos recursos minerais do fundo do nosso mar é uma prioridade. Por outro lado, na revisão da Política Comum de Pescas é fundamental que vingue a posição assumida pelos Açores, que defende o controlo nacional da área entre as 100 e as 200 milhas, mecanismo que, como se sabe, perdemos em 2004 com o Regulamento das Águas Ocidentais.

O poeta Manuel Alegre, no poema Tanto Mar, fez justiça e sintetizou muito bem este azul imenso, que muitas vezes nos separa, mas que também nos une, quando escreveu:

“Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores”.

Disse.

Horta, Sala das Sessões, 22 de novembro de 2012.

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